domingo, 9 de setembro de 2012

Lupicínio Rodrigues: o corno que encanta


Há um Deus, sim, há um Deus.
E este Deus lá do céu há de ouvir minha voz.


O que é música? Prefiro pensar que a melhor definição é não ter definição, fico com a palavra “harmonia”; até mesmo o silêncio tem uma harmonia, e é uma harmonia enlouquecedora. Até o barulho dessas teclas enquanto digito é música, pode se formar ritmos da batida dos meus dedos no teclado do computador, uma sinfonia de sons, uma harmonia do barulho. A música não está em nossas vidas, ela é nossa vida, é a harmonia da vida, sem ela faltaria alguma coisa em todas as criações da Natureza, a vida seria um erro como diria Nietzsche. A música transforma o homem, o transporta para longe de si, nos outros e múltiplos eus, basicamente a música nos serve para tudo, seja para esquecer os problemas, seja para lembrar-se de uma paixão, seja para chorar de saudade, seja para sorrir, gritar, cantar, beber no bar ou, simplesmente, só para ouvir.
Lupicínio Rodrigues é destas figuras que nos faz ouvir uma música com lágrimas, relembrando pessoas, sofrendo de reminiscências, desejando ter vivido outras épocas, balançando levemente a cabeça num gesto afirmativo e com um sorriso meio tímido nos lábios. É assim que no conforto de casa ou na mesa do bar escuto os seus versos ecoarem e me levando de mim: “Quantas noites não durmo/ a rolar-me na cama/ a sentir tantas coisas/ que a gente não pode explicar/ quando ama/ o calor das cobertas/ não me aquece direito/ não há nada no mundo/ que possa afastar esse frio do meu peito/ volta!/ vem viver outra vez ao meu lado/ não consigo dormir sem teu braço,/ pois meu corpo está acostumado.”
Suas letras exalam a dor de cotovelo, porém muito mais que isso elas transportam o amor e a saudade. Saudade de um tempo que nunca vivi, saudade que faz sorrir e chorar, amor e paixão que me deixa a desejar e sonhar ter escrito letras como a de “Esses moços”.

“Esses moços, pobres moços/ Ah! Se soubessem o que eu sei/ Não amavam, não passavam/ Aquilo que já passei/ Por meus olhos, por meus sonhos/ Por meu sangue, tudo/ enfim/ É que peço/ A esses moços/ Que acreditem em mim.”

Não é o canto de um homem derrotado, no fim da vida, ao contrário, é o canto do homem vencedor, vencedor por ter vivido o amor, sua súplica de querer crédito em suas palavras é em vão, e ele sabe que é, pois o amor tem em si essa façanha ilusória da felicidade e, também, do abismo. A dor do amor é a que modela sua música, sua letra, sem ela nada existiria, então por isso o amor de Lupicínio, e de qualquer homem, é a dor que todos sabemos que vai doer, mas só é amor se doer, só é amor se for paradoxal, se for de sorrir e chorar ao mesmo tempo.
Lupicínio faz da dor que é a traição um manifesto de amor, o afastamento da amada, a saudade, a letra que não é melancólica, o desejo da volta, tudo isso é amor em Lupicínio. Algumas músicas são de desespero, a dúvida da traição como em “Se eles estão me traindo/ e andam fingindo que é só amizade,/ hão de pagar-me bem caro/ se eu um dia souber a verdade” nos faz lembrar Bentinho. 
Ele é o corno que encanta, o corno que cantamos mesmo sem sermos cornos, o corno que não é corno; Lupicínio é o homem que ama e soube traduzir em melodias a dor que é amar.

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