Foto Like Mother, Like Son via |
Um único clique aleatório e pronto: a sintonia de dois indivíduos fora capturada.
Sentavam no banco mais afastado do ônibus. O menino ainda apaixonado pela mãe enxergava nela sua heroína; ídolo, namorada. A mãe observava a criança em cada detalhe, ainda maravilhada pelas capacidades recém-descobertas nele: um contador de histórias admirado com o mundo, uma pessoa… Uma pessoa que pensa e imagina, conversa e sorri. E tudo isso havia sido originado a partir dela mesma - como acreditar?
O universo dos dois se limitava àquele instante e eles não percebiam que o tempo passava, passa; passará tão rápido.
O que restará desse momento senão uma lembrança distante e cada vez mais apagada, que por fim se tornará apenas uma impressão na memória do menino quando este se tornar um homem? E para a mãe vai ficar a memória desse tempo em que foram plenos, desse momento fugaz… Logo o ônibus chegará ao seu destino final, eles sempre chegam. E os protagonistas daquele clique serão puxados do instante tão simples em que suas almas se (re)conheceram e passarão aos afazeres urgentes: cozinhar o jantar, fazer a lição, assistir ao novo capítulo da novela.
O que ficará daquele momento? Ou o que ficaria se pelo menos lembrássemos, se percebêssemos…?
Como conceber que instantes como esses se acabem e nunca mais aconteçam da mesma forma, cada dia tão diferente um do outro quanto cada um de nós tão diferente a cada amanhecer? Porque nossas cenas não podem se sobrepor e acontecer desajeitadamente, assim mesmo, todas ao mesmo tempo? Porque deixar ir uma parte, ou partes, para que novas cheguem?
De certa forma tudo o que aconteceu permanece em algum plano alternativo da existência. E também no sorriso, nas frases ditas sem pensar, na doçura ou na brutalidade de alguém. Por trás de nossos globos oculares as cenas vividas reaparecem a cada instante, mesmo que nós não as enxerguemos sempre; aprendemos a fingir que elas não estão lá.
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