Lima Barreto fora um escritor, mulato e morador do subúrbio carioca que tivera
a ideia, quando jovem, de escrever sobre a “História da Escravidão no Brasil”,
ideia essa que só ficara no seu diário. Entretanto, se o escritor não conseguiu
concretizar sua ideia escrevendo a história da escravidão brasileira, ele
logrou o êxito no romance “Clara dos Anjos”. Este romance começou a ser
projetado em 1903, como tá registrado no seu diário íntimo, e só veio a ser
publicado em definitivo em 1923, inicialmente parecia uma problematização sobre
o negro que continuava a ser marginalizado mesmo após a queda da monarquia em
1889. Apesar das mudanças do romance publicado em 1923, mudanças essas em que
Lima Barreto abandona uma escrita histórica da exploração e marginalização do
negro no Brasil, permanece ainda o cerne da ideia inicial, se não histórica,
mas contemporânea da marginalização que o negro continuou a sofrer no período
já republicano. O enredo da mulata, Clara dos Anjos, que é seduzida,
sarcasticamente na data 13 de maio de 1888, por um homem branco e depois
abandonada, tendo sua filha o mesmo fim, não é simplesmente uma ironia de Lima Barreto,
é a representação de uma imagem latente na República Velha: mesmo com o
progresso incrementado pela belle époque a questão do negro, sua condição
socioeconômica e seu lugar na sociedade republicana ficaram em segundo plano,
sendo renegado, marginalizado, e ainda, explorado nos subúrbios.
* Este texto, inicialmente produzido como resumo para publicação, nunca fora desenvolvido e nem apresentado no Seminário sobre estudos culturais e afro-brasileiros que ocorreu esse ano na
Paraíba, mas o resumo, como aqui postei, foi publicado em João Pessoa no
caderno de resumos do evento. Compromisso tenho de escrever sobre a
marginalização do negro, não de forma histórica, mas contemporânea como Lima
Barreto pretendia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário