terça-feira, 16 de outubro de 2012

O Homem

Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci

A Filosofia, dentre as diversas áreas do saber, é a que mais mantém relações íntimas com as demais ciências, ou pelo menos deveria ser. Filosofar é ato do pensamento contemporâneo, na acepção do termo contemporâneo do filósofo italiano Giorgio Agamben. Para Agamben o homem contemporâneo está menos no hoje do que se imagina, grosso modo, contemporâneo é ser atravessado pelo passado no presente. Portanto, filosofar é um ato do pensar contemporâneo, pois parte sempre do passado e chega ao presente numa tentativa de justiça. Mas justiça com quê? Com o passado, com o que não foi no passado. Certo é que vocês já ouviram que filosofar é pensar por conta própria, mas todo pensamento nunca é propriamente meu, antes ele é compartilhado comigo. Entretanto, é preciso imprimir minha voz nos meus pensamentos compartilhados, sem isso seria somente repetição, repetição sem minha voz. A isto é que comumente tenho chamado de pensar por conta própria.
Engana-se quem imagina encontrar respostas aqui, meu objetivo é outro. Pretendo deixar dúvidas e nada responder, pois, como diria Flusser, o que nos move é a dúvida, a certeza nos deixa estático. Não respondo a nada porque o importante é não dar respostas, mas intuições. Deixo transparecer isso justamente num momento em que a filosofia parece não ter mais a capacidade mobilizadora, em que as palavras são postas sem mais nada dizerem, pois já não há mais o que dizer. É chegado o momento de pensar por conta própria, sem estereótipos filosóficos, deixar fluir o meu pensamento e fazer um verdadeiro diálogo com os que me antecederam, sempre pautado na dúvida.
Uma discussão nunca encerrada na filosofia e que nos atinge, seja ao homem simples ou ao erudito, é o que sou? Sou homem, mas o que me torna homem? São perguntas, aparentemente, simples e banais, mas que até este momento não têm respostas, só intuições. Sou o que sou, sinto existir, sentir algo é ser o que sente, assim Aristóteles, sem nem pensar nisso, me define, define o homem. Todo homem sente que é homem, este sentir-se homem é o que o torna homem. Mas quando penso, e aí só posso pensar, que o animal também deve sentir-se animal já não sei mais o que me torna homem, pois divido, com este animal, mais um traço que é o sentir. Será o sentir um dos próprios do homem? Será que o animal sente que é animal?
É bem certo que na filosofia sempre é abordada a questão do homem e animal, os seus traços distintivos e singulares, mas nunca se chegou a um conceito do que é ser homem, um traço que seja inerente ao homem. Logo podem pensar que sim, e falarem do logos, mas isto não é um traço singular do homem, ora a ideia de razão é do homem não do animal e o homem sempre imaginou que pode imaginar o que pensa o animal, mera suposição humana.
Para se chegar a um conceito do que é ser homem faz jus, além de um resgate da história da filosofia, um conceito sobre o que é conceito, e aí nos afastaríamos, ainda mais, do nosso objeto. Mas afinal o que é o homem? A filosofia sempre se inteirou deste questionamento apontando para traços distintivos como a razão, um animal que rir, que pensa, trabalha entre outros, mas nenhum traço deste é decisivo e encerra a distinção entre o animal e homem, todos esses traços trazem pontos importantes para a discussão filosófica, mas nenhum pretende ser completo.
Para saber o que é o homem é necessário conhecer a sua causa, se conhecer é conhecer a causa de sua existência. A causa de minha existência é humana, minha existência só é possível porque outra existência, homem, foi capaz de me produzir. A maioria dos filósofos parecem não passarem deste ponto, e fazem muitas voltas em torno do mesmo ponto, este é um mau de alguns filósofos, anda-se muito para voltar ao mesmo lugar, digo alguns para não cometer o pecado da generalização. A maioria dos filósofos desconsideram as causas da minha essência e ação, como se o homem se resumisse somente à existência.
Spinoza, considerado por muitos como ateu, é destes poucos filósofos que julga que só se pode conhecer o homem se conhecer suas causas: a causa da sua existência, essência e ação. A causa da minha existência é o homem; de minha essência é Deus e de minha ação o desejo ou vontade. Essência, assim como outros termos, é muito caro à filosofia, espero não ser leviano em meus apontamentos aqui. Em Spinoza essência é a “maneira pela qual as coisas criadas estão compreendidas nos atributos de Deus.”
Aqui, me parece, ser um ponto de partida para tratarmos do Homem como animal que pensa, como espécie, como um ser que tem essência e vontade. Mas, afinal, o que é o homem?  

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