Lembrei outro dia, numa discussão entre amigos sobre os prêmios literários, da resenha do livro “Meus Prêmios”, de Thomas Bernhard, que o Prosa&Verso resenhou no dia 08 de outubro de 2011. Isto me fez pensar que era momento de me posicionar sobre as premiações literárias nacionais, palavrinha essa, “posicionar”, que me custa caro, eu sei. E deveria me colocar na questão assim como fizera nosso querido Marcelino Freire e o simpático Ricardo Lisias no Prosa&Verso (mesmo não sendo no Prosa&Verso), porém com uma diferença primordial: não sou escritor, logo nunca recebi prêmio algum, logo estou livre para falar, no caso, escrever.
Para começo deste texto uma pergunta é essencial: quem é Thomas Bernhard? Thomas Bernhard é um escritor austríaco morto em 1989, considerado uma voz marcante na literatura europeia do século passado que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil, entre suas obras publicadas aqui podemos citar Extinção e Náufrago (nunca li). Como não é objetivo aqui tecer maiores comentários sobre o autor, deixo livre o leitor, que se interessar, a buscar a letra de Thomas Bernhard.
O que nos importa aqui é a resenha do seu último livro, Meus Prêmios, que o Prosa&Verso publicou; para ser mais específico, o que me interessa é a temática que permeou a resenha do livro: os prêmios literários nacionais. Não irei fazer aqui uma resenha da resenha, mas é preciso situar o caro leitor.
A resenha do Prosa&Verso nos traz um Thomas Bernhard ganhador de prêmios literários importantes, porém um homem crítico quanto à importância ou relevância que vem com a premiação literária. Não me parece que o autor seja contra o prêmio, mas vê ali somente grupo, independente de ser boa ou não a escrita, os prêmios literários para Thomas Bernhard não diz muito sobre o que é literatura relevante que vá ficar para posterioridade, pelo menos foi isto que a resenha passou.
Até aí nada de estranho, de fato essas premiações estão muito longe de dizer o que é relevante na produção contemporânea, pois se aceitarmos a ideia de que a própria crítica também se encontra distante da produção do Agora, sobretudo pelo motivo de vivenciar essa época de produção tornando-se mais difícil um olhar sobre seu tempo, nos perguntamos então com qual autoridade os prêmios literários elencam obras como literatura brasileira de relevância na sua forma estética? E nos perguntamos, ainda, de onde vem esse “gosto” estético dos jurados e, se me permitem mais uma indagação, o que fica de substância literária para autor e leitor após uma premiação literária?
Em “Meus Prêmios” Thomas Bernhard faz uma crítica contundente ao vazio que é para a literatura o ato de premiar o autor, em nada acrescenta isso, a não ser pelos valores que se paga em cada premiação literária, valores esses que me fazem perguntar sempre: é de literatura mesmo que estamos falando? Pois, a saber pelo valor do literato no país creio que pagar cinto e cinqüenta mil reais, como fez o Prêmio Moacyr Scliar de Literatura, ao poeta Ferreira Gullar por o livro Em alguma parte alguma é de re-pensar o valor da literatura no Brasil, pois a bagatela de 150.000,00 não é pouca. Detalhe que Gullar nem questão de ir receber o prêmio fez, pois acha Porto Alegre, talvez, muito longe do Rio de Janeiro e, além disso, o poeta não anda de avião: “De avião eu não vou. Faz uns dez anos que não ando de avião. Quem sabe eles não resolvem entregar o prêmio aqui no Rio. Eles podiam fazer uma coisa bonita na Academia Brasileira de Letras ou na Biblioteca Nacional.” (O Estado de São Paulo, 17/03/12). Depois dessa direta nos gaúchos o prêmio será entregue dia 29 aqui no Rio de Janeiro na Biblioteca Nacional ou na Academia Brasileira de Letras, pois evento grandioso exige lugares grandiosos, não serve um bar da Lapa.
Mas sabemos que valor pecuniário e estético são duas coisas distintas e necessariamente não andam juntas. Então é falsa a ideia de que aqui não se valoriza os autores, a escrita, o incentivo à literatura? Como já frisei não sou escritor, por isso posso escrever sem medo de amarras com prêmios. É verdade que algumas premiações têm desembolsado valores considerados altos no mercado literário, entretanto, daí dizer que há valorização da escrita é outra coisa, estaria eu a forçar e acreditar demais nos prêmios literários.
Então o que há? Política de prêmios, a volta do falso intelectualismo e, mais uma vez, a morte da inteligência.
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