quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Lima Barreto e o espírito de humanidade

Neste momento me vem à memória umas lembranças de Proust sobre a leitura, quando este dizia que a sabedoria do leitor começa onde termina a do autor e que o autor só pode dar-nos é desejo, não respostas. Pensando assim, eu enquanto leitor, vou extraindo desejos do que leio, e creio que tenho me tornado a cada dia mais o objeto de estudo, porque o objeto de estudo tende a fundir o meu e seu espírito num só, numa única linguagem, o leitor é leitura e a leitura é leitor. Venho assim, não contar, mas compartilhar do assombro que tenho à medida que percebo o quanto tenho me tornado o meu objeto de estudo, ou antes, já o era, e agora o re-descobrindo: Lima Barreto.
Aos que pensam que aqui vai se seguir uma enumeração de semelhanças estão enganados, pois isso, creio, é tão comum entre Lima Barreto e um homem qualquer, não será isso que me faz, não igual, mas me tornar o meu objeto de estudo. Antes é preciso que fique claro que não entendo sua obra, não entendo, mas vou me reconhecendo por meio dela. O fato de não entendê-la pra mim é a perpetuação da obra, da escrita, do Lima Barreto, pois nada encerra em mim.
Até este momento na minha vida de leitor nunca havia me deparado com um autor que fosse tão apaixonado pela Literatura e a vivenciasse como ela merece, como uma Arte. Lima Barreto foi esse autor que despertou em mim o assombro e a vergonha. Assombro por notar que a cada dia sou mais “Lima Barreto”, suas convicções, crenças, paixões, defeitos, acertos, problemas, tudo isso, respeitando a dimensão de cada um na vida do autor, sou eu, na verdade, como afirmara Ivan Teixeira, “o artista Lima Barreto é uma invenção da sua própria ficção” e eu sou uma criação da personagem Lima Barreto, é o pesquisador que se fez imagem e semelhança da coisa estudada.
Por outro lado sinto vergonha, vergonha por não ter a mesma coragem do autor, vergonha por, ainda, não viver a Literatura como Arte, Letras como Arte, por não viver dessa coisa das letras como ela me pede. Nossas vidas, neste momento, foram parecidas, a mesma idade, as mesmas dúvidas, pensamentos afins, com a diferença que Lima Barreto já pensava como escritor e escritor consciente do seu dever e, sobretudo, consciente das suas falhas enquanto escritor. Eu não sou escritor, sou leitor, sou crítico, crítico-leitor, Lima era leitor, escritor e crítico.
Creio, na minha visão romântica e defensora da estética limana, que Lima Barreto muito pode servir aos novos escritores, como exemplo de paixão pela Arte a seguir, exemplo de escritor dedicado, fiel ao seu pensamento, mesmo “errado”, fiel ao seu pensamento, reflexivo nas suas leituras. A Literatura pede a toda geração seus nomes para a eternidade, com a nossa não é diferente, porém o que vai ficar de bom não sabemos, ainda é cedo, mas que fiquem escritores de alma limana, escritores que não sejam covardes às suas idéias, seus pensamentos, pois só um escritor fiel e consciente da sua missão pode continuar aquilo que Lima Barreto perseguiu a vida toda: despertar o homem para o sentimento e uni-los no espírito de humanidade.
Como já mencionei, não sou escritor. Então onde é que me encontro igual ao meu objeto de estudo? Que pretensão é essa de dizer que o Eu é Lima Barreto? De onde vem essa simpatia? São perguntas que pretendo respondê-las até o final desta folha, na forma mais simplória e pueril possível. Assim como o escritor fiel, o pesquisador também precisa ser fiel a sua tese, crer, defender, honrar a causa maior que é a Literatura.
Quando li Kierkegaard afirmando no seu Existencialismo Cristão que cada homem deve compreender sua existência por meio de suas escolhas e que essas escolhas são a manifestação da vontade, responsabilidade e liberdade de cada homem, percebi que Lima Barreto tinha consciência de suas escolhas, da escolha de viver a Literatura como Arte. Neste momento me aproximei de Lima Barreto, do homem que se abandonou pelas coisas das letras, e fiz minha escolha de pesquisador que quer viver a sua obra, mesmo que errado, com a máxima paixão. Essa simpatia por Lima Barreto nasce do ideal a que o autor se propôs, que seja a ideia, que está na obra, se transforme em sentimento e este sentimento incorpore no leitor. Que a Arte possa, assim, unir os homens.
Deixo essas palavras de Lima Barreto como uma forma de amenizar as minhas tolas palavras de pesquisador encantado. São elas fruto de amor e desespero do escritor por essas coisas das letras.
A Literatura ou me mata ou me dá o que eu peço dela.


Um comentário:

  1. A internet democratizou a possibilidade de expressão,mas eu, assim como Aristóteles, acredito qeu a maioria das pessoas nasceram p\ trabalhos braçais e ñ intelectivos. Desse modo a internet democratizou a expressão da mediocridade. Pessoas que escrevem mas não leem e quando leem não tem critérios rigorosos de avaliação e ou não compreendem. Portanto qdo nos deparamos com blogs como Margiñália temos a sensação de que em meio a textos caleidoscópios, infantis e imbecis ainda existe gente pesante, leitores sérios, pesquisadores que de fato se preocupam com o conhecimento e não em angariar seguidores e leitores medíocres que exatamente por serem assim inflam o ego desses escrevinhadores!!
    O seu texto não é "simplório" como vc afirma, acredito que é simples! O que é bem diferente. Ser simples exige conhecimento profundo para transformar o comlexo em algo acessível sem cair na superficialidade e mediocridade. Ser simples demanda decadas de estudos!
    Continue neste caminho e Lima Barreto tem e terá orgulho do discipulo dele!

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