domingo, 13 de novembro de 2011

II

Do filme "Elegy"


É incrível o poder que ele exerce sobre mim, mesmo depois de tanto tempo. Basta a mais ínfima demonstração de carinho para que eu esqueça os planos de nova vida.

- A distância é uma puta - ele disse -, dessas que fazem um péssimo serviço e ainda cobram caro.

Só o amor é capaz de dar beleza a um palavrão, então eu achei 'puta' a palavra mais linda do mundo. Naquele momento, o eu te amo dele poderia vir acompanhado deste vocativo poético, puta, que eu não ligaria.

- Eu detesto isso. Eu detesto tudo isso. Eu detesto como ainda gosto de você. Eu detesto o jeito que você tem de acabar com todas as minhas certezas. Eu te detesto. Eu só te amo quando você tá longe. Quando você chega, todo arrogante, como quem diz 'tua vida e minha', eu te detesto.

- Bom saber disso. Bom saber que eu posso entrar assim na tua vida. Desculpa.

- Em que parte do caminho o amor da gente ficou tão cafajeste assim? Me diz.

Eu o abracei. Não era um abraço pelo abraço, eu só queria sentir o cheiro dele, daquele corpo, como faz um viciado em cocaína. Ele era a minha droga, e eu precisava cheirá-lo.

Os braços dele apertavam a minha cintura como se há tempos não envolvessem um corpo assim.

- Não preciso de muita coisa nem de muito tempo - dizia -, basta te abraçar por um minuto.

Ele não precisaria. Menos de um minuto, e se passaram dias.




Um comentário:

  1. O que mais posso acrescentar, senão a mera contribuição em dizer que a sua escrita-leitura é linda. =]

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