Ando mesmo sem saber da nossa “geração” literária, se é que este termo ainda valha alguma coisa, me desculpe o leitor se aqui cometo sacrilégio, mas não sei ainda quem são os de nossa geração, nomes que estejam no imaginário brasileiro, só sei dos que estão no mercado. Há por aí uma literatura de compadres em voga e que em muita é criticada por esse motivo, os críticos dizem que os compadres nada têm a dizer, só troca de elogios mútuos. Ao que me parece a Literatura Brasileira fora sempre uma espécie de corporativismo literário, o maior deles talvez tenha sido o Modernismo. A política literária de compadres não é de toda mal e desnecessária, publicar um livro e ser notado no meio não depende somente de uma boa escrita, há fatores externos ao escritor, sobretudo a questão social e regional, que o levam ao auge midiático ou à invisibilidade literária. Sendo assim formar um grupo literário, de ideologia “um por todos e todos por um”, parece ser uma saída para não ficar na invisibilidade, uma forma de burlar os mercados editorias e suas preferências pecuniárias, por outro lado, só isso não basta, é preciso saber de onde se escreve. Escrever na província literária em nada vai resultar, me desculpe o leitor meu pessimismo, não sou totalizador das idéias, mas dificilmente teremos um nome nacional oriundo do norte, nordeste e centro-este do país. Ah já sei o que vão falar, e Milton Hatoum? Nosso Hatoum não cabe no caso, pois apesar de tematizar uma literatura com escrita que se situa numa espécie de novo regionalismo, Milton Hatoum não conseguiria ser o que é no espaço nacional se continuasse a escrever do norte do país, sua presença no sudeste, sobretudo São Paulo, fez sua escrita ser reconhecida. A literatura nacional perderia Hatoum caso ele ainda residisse em Manaus, e me pergunto, quantos Hatouns não temos perdido nos últimos anos?
A internet proporcionou o surgimento de diversos “invisíveis” espalhados pelo país, na mesma proporção fez surgir grupos de escritas absortas de sentimentalismo exacerbado e tosco com uma ausência de trabalho com a linguagem. Outros trabalham fora e dentro da internet e “brincam” com as possibilidades da linguagem, burlam os gêneros canonizados e questionam a própria literatura. Encaixa-se neste grupo a nova geração de escritores “paulistas”, ao certo que nem todos são paulistas de fato, mas tiveram que se tornar por motivo simples de ser somente lá que a crítica vê literatura. Dessa forma que, por exemplo, o pernambucano Marcelino Freire se tornou um “paulista”. Recentemente Marcelino e seus amigos paulistas foram criticados por Beatriz Resende, renomada crítica e professora da UFRJ, de ser um grupo que cultua o elogio mútuo entre si, mas de literatura não tão boa quanto os elogios. Essa literatura de compadres que a Marginália abomina, é recorrente entre os novos escritores, de nada os acrescenta, mas fortalece o grupo na sua marginalidade.
A escrita contemporânea ainda está enraizada na estética violenta, sangrenta, sexual, estética ainda pobre de trabalho com a linguagem, nos falta um espírito explorador da língua. Infelizmente a nossa tradição editorial tem dado privilégio a essa literatura e os jovens escritores ou tem mergulhado nisso ou tem escrito literatura sem o devido cuidado estético, ora pensam que estão fazendo nova literatura, porém com a irresponsabilidade de não olhar o passado. É caro leitor, os invisíveis literários não são somente os que estão produzindo algo de interessante na marginalidade como uma estética menos violenta, porém mais revolucionária, os invisíveis também são aqueles que estão achando ter descoberto um mundo novo de literatura em 140 caracteres, só para exemplificar, ou ainda, aqueles que julgam uma “inspiração” nova, nunca antes vista na literatura.
E o que dizer da nossa crítica canonizada sobre os invisíveis literários? Notem que eles são tão invisíveis que não aparece nome de nenhum aqui, pois assim, crer este autor, perderia a qualidade de escritor invisível se configurasse aqui o nome de algum. Penso eu que este país continente é na verdade uma pequena porção de terra na visão de nossos críticos literários, pois comumente só relacionam escritores do Rio de Janeiro e São Paulo. E não entendo como usam o termo literatura brasileira, devia ser antes literatura estrangeira, pelo menos para os marginais e invisíveis literários.
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