tag:blogger.com,1999:blog-59994890999213902192024-03-05T23:22:09.433-08:00MargináliaUnknownnoreply@blogger.comBlogger37125tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-80460492737503805412013-01-15T11:34:00.001-08:002013-01-15T11:34:27.952-08:00Arte<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Já passava da hora de minhas férias acabar e voltar para Marginália. Com tanta coisa acontecendo eu resolvi tirar férias, e foram mais
de um mês, mas cá estamos de volta num novo ano. Neste período travei alguns
contatos e retomei outros, sobretudo na mesa de bar, e por favor, não me tomem
como alcoólico. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Pois bem, por essa estrada e contatos não
poderia deixar de comentar aqui sobre o artista e seu engajamento social, toco
neste assunto já que foi recente a temática tratada com meu colega escritor
Bruno Paulino. Para minha surpresa dias após essa discussão tomo conhecimento
que um texto meu havia sido publicado num e-book na Dialogarts da UERJ, e o
assunto do texto era sobre Lima Barreto e sua concepção de arte como
engajamento social, deixo aqui alguns trechos do texto:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">“Na obra de Lima Barreto a presença humana se mostra em
toda a dimensão dos problemas do homem, sejam problemas de relações sociais ou
pessoais, eles devem ser tratados pelo artista, eis a meta do artista, sua
função social: o artista ou intelectual deve ter o compromisso com o sentimento
de humanidade em sua obra. Era assim que Lima Barreto pensava que deveria ser o
papel do artista na sociedade, ele deveria ter uma função social em que o
“pensamento de interesse humano” deveria ser superior à forma, estilo,
gramática ou ritmo da obra.”<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Para o escritor mulato de Todos os Santos há
de se ter o “pensamento de interesse humano” na arte; aqui me lembro do meu
amigo, poeta e músico, Dandy, que sempre diz “quanto mais unidos, mais humanos
seremos”. A arte, para ser arte, e não quero aqui conceituá-la, nos une, nos
faz entender o mistério que é o universo, o ar, o mar, o homem, o eu, o outro, enfim,
ela nos liga a Deus. A filosofia Estoica diz que é preciso haver “simpatia”
entre as partes que formam o universo, essas partes somos todos nós (natureza).
Spinoza já dizia “Deus sive Natura”, Deus e Natureza são a mesma coisa, então
não pode haver rupturas entre as partes da Natureza, pois nos afastaríamos de
Deus. Aqui entra Lima Barreto que vem nos chamando, por meio de sua arte, para comungarmos
com os outros e chegar a Deus. Aristóteles já dizia “o amigo é um outro [em
si] mesmo”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">“Podemos perceber que para o autor [Lima Barreto] só a
Arte seria capaz de assegurar a totalidade, seria ela que elevaria o homem, por
meio de sua individualização, ao Universo. Isto só é possível porque há simpatia
no homem e em sua relação com o mundo e com os homens, e para Lima Barreto é
este o sentimento que o intelectual deve cultivar, o sentimento maior e sublime
de humanidade que é de com-sentir (sentir-se existir com o próximo, sentir
junto a existência) com todos.”<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Deixo aqui essas palavras de Lima Barreto
como forma de reflexão sobre a arte, sua importância e nosso dever:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">“O homem, por intermédio da Arte, não fica adstrito aos
preceitos e preconceitos de seu tempo, de seu nascimento, de sua pátria, de sua
raça; ele vai além disso, mais longe que pode, para alcançar a vida total do
Universo e incorporar a sua vida na do Mundo.”</span><o:p></o:p></span></i></div>
Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-69655803378558412132012-11-28T14:32:00.001-08:002012-11-28T14:32:31.107-08:00Da marginalização do negro na obra de Lima Barreto*<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><span style="color: #444444;">Lima Barreto fora um escritor, mulato e morador do subúrbio carioca que tivera
a ideia, quando jovem, de escrever sobre a “História da Escravidão no Brasil”,
ideia essa que só ficara no seu diário. Entretanto, se o escritor não conseguiu
concretizar sua ideia escrevendo a história da escravidão brasileira, ele
logrou o êxito no romance “Clara dos Anjos”. Este romance começou a ser
projetado em 1903, como tá registrado no seu diário íntimo, e só veio a ser
publicado em definitivo em 1923, inicialmente parecia uma problematização sobre
o negro que continuava a ser marginalizado mesmo após a queda da monarquia em
1889. Apesar das mudanças do romance publicado em 1923, mudanças essas em que
Lima Barreto abandona uma escrita histórica da exploração e marginalização do
negro no Brasil, permanece ainda o cerne da ideia inicial, se não histórica,
mas contemporânea da marginalização que o negro continuou a sofrer no período
já republicano. O enredo da mulata, Clara dos Anjos, que é seduzida,
sarcasticamente na data 13 de maio de 1888, por um homem branco e depois
abandonada, tendo sua filha o mesmo fim, não é simplesmente uma ironia de Lima Barreto,
é a representação de uma imagem latente na República Velha: mesmo com o
progresso incrementado pela belle époque a questão do negro, sua condição
socioeconômica e seu lugar na sociedade republicana ficaram em segundo plano,
sendo renegado, marginalizado, e ainda, explorado nos subúrbios.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">* Este texto, inicialmente produzido como</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"> </span><i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">resumo</span></i></span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><span style="color: #444444;"> para publicação, nunca fora desenvolvido e nem apresentado no Seminário sobre estudos culturais e afro-brasileiros que ocorreu esse ano na
Paraíba, mas o resumo, como aqui postei, foi publicado em João Pessoa no
caderno de resumos do evento. Compromisso tenho de escrever sobre a
marginalização do negro, não de forma histórica, mas contemporânea como Lima
Barreto pretendia.</span><o:p></o:p></span></div>
Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-325337816815012142012-11-04T17:42:00.001-08:002012-11-04T17:42:23.864-08:00Lá nas Marinheiras e outras crônicas<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-harVDSliBbk/UJcYUyTnawI/AAAAAAAAAI0/B-uQ_JjakpY/s1600/livro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-harVDSliBbk/UJcYUyTnawI/AAAAAAAAAI0/B-uQ_JjakpY/s400/livro.jpg" width="265" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não sou de escrever resenhas, pois elas não trazem uma análise da obra,
no mais só nos proporciona um resumo, às vezes um tanto conturbado, da obra. Portanto,
o que se segue, neste texto, não é uma resenha, mas não é, também, propriamente
uma crítica, é antes, considerações sobre o livro do escritor cearense Bruno
Paulino <i>Lá nas Marinheiras e outras
crônicas</i> ao qual tive contato recentemente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Considerações sobre a escrita, o tema e sobre a crônica que é o gênero
do livro. Comecemos pelo final, a crônica. Por qual motivo um escritor
contemporâneo se deteria num gênero considerado por muitos como “menor”? Como a
crônica passará da efemeridade a perenidade? Sendo livro de estreia não seria
melhor um romance e demarcar assim um lugar, se é que existem lugares marcados
na literatura? E como fugir ao regionalismo produzindo no interior do Ceará
crônicas da paisagem local? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Assim como a filosofia que é feita de perguntas e não de respostas, não
pretendo, em matéria literária, responder minhas indagações, somente
discuti-las. A crônica nunca foi gênero menor, mas sempre foi tratada pela
crítica como tal, isto desde Machado de Assis, mas foi por meio dela, essa
pequena, que as novelas eram publicadas em capítulos nos anos inicias do aparecimento
do jornal, entretanto se ela fora vista como algo menor, em questão de gênero,
quanto ao conteúdo serviu como ferramenta ideal para crítica seja nos debates
literários, sociais, culturais ou, ainda, na representação das cidades, do
urbano ao rural, do centro ao marginal. É dentro dessa representação da cidade
que encontramos as crônicas de Bruno Paulino, revestida de certo saudosismo de
um passado que não viveu é que o escritor vai falando de sua Quixeramobim.
Penso que a escolha pelo saudosismo fora para fugir da efemeridade da crônica,
mas se me permite meu caro Paulino, senti falta de maior abordagem do presente
em sua escrita, não entenda como crítica, pois não é, só apontamento. O
saudosismo poderia ser aproveitado para um maior trato com o social e a
crítica, como na crônica <i>Quanto tempo
temos antes de voltarem aquelas ondas?</i> Que versa sobre a enchente de 1974
na cidade de Quixeramobim em que áreas construídas na margem do rio foram
alagadas, deixando claro um problema de habitação e planejamento urbano. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quanto à escrita Paulino faz alternações que creio importante ressaltar
aqui: ora o cronista escreve mais “despreocupado” e bem próximo de uma
linguagem informal, ora uma linguagem de tom mais acadêmico, dou exemplos. A
crônica <i>Ah, quentura medonha!!!</i>
trabalha uma linguagem simples, bem oral, e portanto, próxima de um público
menos letrado, ao mesmo tempo que mescla com referências a textos clássicos que
não exigem um conhecimento prévio do leitor para capturar as comparações “<i>brincadeiras à parte, o caso é sério, é mais
que sério, é de rachar a moleira meu caro amigo, é quentura de fazer inveja a
qualquer inferno de Dante, são 35 graus no termômetro sem direito a nenhuma
chuvinha”.</i>O leitor entende que <i>inferno
de Dante</i> deve ser algo muito quente sem necessariamente conhecer a obra de
Dante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Ora surge uma linguagem que se quer academicista, mas não se faz, o que
é bom. E creio que seja melhor não fazer este tipo de escrita, pois nem na Academia
ela é mais suportável. O que fica da linguagem é uma reunião entre o popular e
o clássico, mas tenho impressão que o cronista tentou por vezes transparecer
mais a segunda que a primeira linguagem. Uma crônica que a considero no tom da
linguagem, que não fica nessa tensão, mas sim as une, é <i>Anedotas de Quintino Cunha em Quixeramobim</i> é universal e regional
ao mesmo tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quanto ao regionalismo não creio em tal figura, não como praticam
particularizando personagens, enredo, linguagem, ambiente a um lugar. Todo
regionalismo deve ser antes universal, caso contrário é literatura menor.
Escrever crônicas de uma cidade do interior cearense necessariamente não é
regionalismo, não é particularizar a escrita, talvez isso tenha surgido da
tentativa ter voz, entretanto o tiro saiu pela culatra, o regionalismo se
particularizou tanto que ficou ainda mais afastado da literatura que denominam
Brasileira, pois infelizmente o lugar de onde se escreve, seja o físico ou
ambiente, é ainda condição para conceituações como literatura brasileira,
regional...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Creio que Bruno Paulino não se limita a este pensamento em suas
crônicas, outros autores também relataram suas cidades em crônicas como João do
Rio e Lima Barreto, o fato é que o tema não conduz a uma escrita regional, isto
só vai ocorrer se assim batizarem o livro, coisa que não desejo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Paro por aqui, mesmo não sendo uma crítica é preciso saber a hora de se
retirar, a minha única observação é que o autor em suas próximas crônicas nos
fale mais do presente lembrando que o verdadeiro homem contemporâneo é o
inatual.<o:p></o:p></span></div>
Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-57910112133988587192012-10-16T13:09:00.000-07:002012-10-16T13:09:23.395-07:00O Homem<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-DPdBcxWF9_c/UH2-Xllt7gI/AAAAAAAAAIk/V5uWGCwtCro/s1600/homem+vitruviano.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-DPdBcxWF9_c/UH2-Xllt7gI/AAAAAAAAAIk/V5uWGCwtCro/s320/homem+vitruviano.jpg" width="235" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">A Filosofia, dentre as diversas áreas do saber, é a que mais mantém
relações íntimas com as demais ciências, ou pelo menos deveria ser. Filosofar é
ato do pensamento contemporâneo, na acepção do termo <i>contemporâneo</i> do filósofo italiano Giorgio Agamben. Para Agamben o
homem contemporâneo está menos no <i>hoje</i>
do que se imagina, grosso modo, contemporâneo é ser atravessado pelo passado no
presente. Portanto, filosofar é um ato do pensar contemporâneo, pois parte
sempre do passado e chega ao presente numa tentativa de justiça. Mas justiça
com quê? Com o passado, com o que não foi no passado. Certo é que vocês já
ouviram que filosofar é <i>pensar por conta
própria</i>, mas todo pensamento nunca é propriamente meu, antes ele é compartilhado
comigo. Entretanto, é preciso imprimir minha voz nos meus pensamentos
compartilhados, sem isso seria somente repetição, repetição sem minha voz. A
isto é que comumente tenho chamado de <i>pensar
por conta própria</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Engana-se quem imagina encontrar respostas aqui, meu objetivo é outro.
Pretendo deixar dúvidas e nada responder, pois, como diria Flusser, o que nos
move é a dúvida, a certeza nos deixa estático. Não respondo a nada porque o
importante é não dar respostas, mas intuições. Deixo transparecer isso
justamente num momento em que a filosofia parece não ter mais a capacidade
mobilizadora, em que as palavras são postas sem mais nada dizerem, pois já não
há mais o que dizer. É chegado o momento de <i>pensar
por conta própria</i>, sem estereótipos filosóficos, deixar fluir o meu
pensamento e fazer um verdadeiro diálogo com os que me antecederam, sempre
pautado na dúvida.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Uma discussão nunca encerrada na filosofia e que nos atinge, seja ao
homem simples ou ao erudito, é o que sou? Sou homem, mas o que me torna homem?
São perguntas, aparentemente, simples e banais, mas que até este momento não
têm respostas, só intuições. Sou o que sou, sinto existir, sentir algo é ser o
que sente, assim Aristóteles, sem nem pensar nisso, me define, define o homem.
Todo homem sente que é homem, este sentir-se homem é o que o torna homem. Mas
quando penso, e aí só posso pensar, que o animal também deve sentir-se animal
já não sei mais o que me torna homem, pois divido, com este animal, mais um
traço que é o sentir. Será o sentir um dos próprios do homem? Será que o animal
sente que é animal? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">É bem certo que na filosofia sempre é abordada a questão do homem e
animal, os seus traços distintivos e singulares, mas nunca se chegou a um
conceito do que é ser homem, um traço que seja inerente ao homem. Logo podem
pensar que sim, e falarem do <i>logos</i>,
mas isto não é um traço singular do homem, ora a ideia de razão é do homem não
do animal e o homem sempre imaginou que pode imaginar o que <i>pensa</i> o animal, mera suposição humana.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Para se chegar a um conceito do que é ser homem faz jus, além de um
resgate da história da filosofia, um conceito sobre o que é conceito, e aí nos
afastaríamos, ainda mais, do nosso objeto. Mas afinal o que é o homem? A
filosofia sempre se inteirou deste questionamento apontando para traços
distintivos como a razão, um animal que rir, que pensa, trabalha entre outros,
mas nenhum traço deste é decisivo e encerra a distinção entre o animal e homem,
todos esses traços trazem pontos importantes para a discussão filosófica, mas
nenhum pretende ser completo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Para saber o que é o homem é necessário conhecer a sua causa, se
conhecer é conhecer a causa de sua existência. A causa de minha existência é
humana, minha existência só é possível porque outra existência, homem, foi
capaz de me produzir. A maioria dos filósofos parecem não passarem deste ponto,
e fazem muitas voltas em torno do mesmo ponto, este é um mau de alguns
filósofos, anda-se muito para voltar ao mesmo lugar, digo alguns para não
cometer o pecado da generalização. A maioria dos filósofos desconsideram as
causas da minha <i>essência</i> e <i>ação</i>, como se o homem se resumisse
somente à existência.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Spinoza, considerado por muitos como ateu, é destes poucos filósofos que
julga que só se pode conhecer o homem se conhecer suas causas: a causa da sua
existência, essência e ação. A causa da minha existência é o homem; de minha
essência é Deus e de minha ação o desejo ou vontade. <i>Essência</i>, assim como outros termos, é muito caro à filosofia,
espero não ser leviano em meus apontamentos aqui. Em Spinoza <i>essência</i> é a “maneira pela qual as
coisas criadas estão compreendidas nos atributos de Deus.”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Aqui, me parece, ser um ponto de partida para tratarmos do Homem como
animal que pensa, como espécie, como um ser que tem essência e vontade. Mas,
afinal, o que é o homem? </span></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;"> </span><o:p></o:p></span></div>
Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-11181686157150826752012-09-30T21:21:00.000-07:002012-09-30T21:21:01.581-07:00Da arte de beber literatura (teses)<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">I<o:p></o:p></span></div>
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">Assim como a bebida que vicia, a literatura também torna o homem alcoólico; quase sempre, os que possuem cultura de subúrbio, começam nas bebidas geladas, sobretudo, cerveja e chopp, após certo período a ânsia literária já não se satisfaz com leituras geladas que são típicas de quem começa a conhecer a literatura. Do chopp e cerveja migra-se para bebidas quentes, ora whisky, não os de boa qualidade, ora vodka, sobretudo as nacionais, ora a cachaça. Aqui reside o paradoxo, à medida que a inconstância da literatura cresce em nosso peito vamos mergulhando em leituras mais “pesadas”, mais fortes, complexas e perturbadoras no espírito humano, porém não é culpa dela, a culpa é do homem, do seu espírito conhecedor, aqueles que rompem com a ignorância se afogam neste mundo de bebidas literárias. Por outro lado esse mergulho é também um fracasso, a cada passo que dá para a literatura são dois passos para a solidão, medida descomunal. Vamos nos tornando alcoólicos, a cerveja do subúrbio já não serve mais, parte para o whisky ruim, e já se prova outro gosto, acalma o espírito ao mesmo tempo que o corrompe para vôos maiores; a vodka vem, o whisky de boa qualidade também, parece que enxergou a divisa do espírito, breve engano que a literatura nos proporciona, daí em diante experimentamos o paradoxo do vôo alcançado e a dependência; a cachaça será o fim, é quando não suportando e não compreendendo o aparente transcendental, encontra na cachaça o devido silêncio da solidão que a literatura proporciona. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;"><br /></span>
</span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">II<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">A Literatura no nosso tempo tem sido encarada como ferramenta que não segue mais grupos, livre de técnica, “normas”. Mas ao passo que esses grupos foram sendo sucumbidos surgiram outros, só a técnica que parece ter morrido. Portanto, permanece a hegemonia que se volta, não mais para quem escreve ou publica, mas para quem tem “vaga”. Por acaso há vagas nos botequins reservadas para os eleitos? O botequim é de todos, mas é preciso saber beber. A bebida tem sua forma, sua propriedade, onde reside seu conceito de bebida, de lá extraímos a aparente transcendência; nem mesmo a literatura transcende, ela é cria e pai do mundo, e é aí que mora a falsa transcendência porque dela é impossível surgir o novo, para tal acontecimento é preciso que o novo surja de algo nunca visto antes. Ela é atravessada pela história, daí tudo o que ela faz é no nível do mundo.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small; line-height: normal;"></span></span><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;">III</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><i>O que prejudica os nossos literatos não é a cachaça. É a burrice.<o:p></o:p></i></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><i>Lima Barreto<o:p></o:p></i></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">Beber em demasia é um mal, vicia o homem e o mata, prudente seria não beber, mas aquele que experimenta o breve instante da luz divina a deseja compulsivamente até a morte. Ela também pode desviá-lo para as trevas, sobretudo quando nela busca o alívio do seu tempo; aqueles que buscam a verdade a encontram pelo conhecimento, assim é a literatura também.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small; line-height: normal;"></span></span><br /></span>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">IV<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">Cachaça boa é cachaça velha, quanto mais velha for, melhor fica; aqueles que sabem apreciar uma boa bebida sabem do que falo. Mas cachaça nova também é boa, entretanto, para degustá-la não é preciso, necessariamente, ter provado as bebidas antigas, porém ela só será uma boa cachaça se tiver na sua composição a devida quantidade de reconhecimento às bebidas antigas que sempre dividirão espaço no bar com as novas. Bem que a literatura do Agora poderia ser encarada assim, como uma cachaça nova.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 18px;"><br /></span>
</span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">V<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Toda cachaça requer ser envelhecida para ganhar o padrão de “boa”. Toda cachaça só é boa porque é velha. Toda cachaça velha é nova também, e toda cachaça nova é velha, mas não será boa se for apenas velha, é preciso ser muito mais que velha, é preciso superar a velha cachaça no tempo. Assim é a boa literatura, ela não pode negar o passado, sua relação com ele não é de herança, e sim de justiça, ser no presente o que não foi no passado, mas para isto é preciso ser tudo o que foi no passado e então se superar fazendo justiça com aquilo que não foi.</span></span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="font-size: medium; line-height: normal; text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br />
<div align="center" class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">VI<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">Curió, meu filho, tá uma porcaria, mas poesia ruim é melhor que bosta nenhuma. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;">Quincas Berro d'Água<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: #444444; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Há cachaça ruim? Sim, há. Quem já bebeu uma cachaça doce, gostosa, na medida certa do álcool, sem colocar ou tirar, sente a diferença quando bebe uma de má qualidade, mas nem por isso deixa de ser cachaça. Aliás, melhor uma cachaça ruim que nada. O mesmo vale para literatura; questão de gosto, questão de ter alguma coisa que coisa nenhuma. </span></span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-10407723194761446982012-09-09T21:52:00.000-07:002012-09-09T21:52:03.022-07:00Lupicínio Rodrigues: o corno que encanta<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="background-color: white;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Há um Deus, sim,
há um Deus.</span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="background-color: white;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">E este Deus lá
do céu há de ouvir minha voz.</span></span></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-v0JTOsFFJls/UE1wG_Z-6BI/AAAAAAAAAIM/xkphErpNseQ/s1600/lupicinio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-v0JTOsFFJls/UE1wG_Z-6BI/AAAAAAAAAIM/xkphErpNseQ/s320/lupicinio.jpg" width="314" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O que é música? Prefiro
pensar que a melhor definição é não ter definição, fico com a palavra
“harmonia”; até mesmo o silêncio tem uma harmonia, e é uma harmonia
enlouquecedora. Até o barulho dessas teclas enquanto digito é música, pode se
formar ritmos da batida dos meus dedos no teclado do computador, uma sinfonia
de sons, uma harmonia do barulho. A música não está em nossas vidas, ela é nossa
vida, é a harmonia da vida, sem ela faltaria alguma coisa em todas as criações
da Natureza, a vida seria um erro como diria Nietzsche. A música transforma o
homem, o transporta para longe de si, nos outros e múltiplos eus, basicamente a
música nos serve para tudo, seja para esquecer os problemas, seja para lembrar-se
de uma paixão, seja para chorar de saudade, seja para sorrir, gritar, cantar, beber
no bar ou, simplesmente, só para ouvir. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Lupicínio Rodrigues é
destas figuras que nos faz ouvir uma música com lágrimas, relembrando
pessoas, sofrendo de reminiscências, desejando ter vivido outras épocas,
balançando levemente a cabeça num gesto afirmativo e com um sorriso meio tímido
nos lábios. É assim que no conforto de casa ou na mesa do bar escuto os seus
versos ecoarem e me levando de mim: “Quantas noites não durmo/ a rolar-me na
cama/ a sentir tantas coisas/ que a gente não pode explicar/ quando ama/ o
calor das cobertas/ não me aquece direito/ não há nada no mundo/ que possa
afastar esse frio do meu peito/ volta!/ vem viver outra vez ao meu lado/ não
consigo dormir sem teu braço,/ pois meu corpo está acostumado.”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Suas letras exalam a
dor de cotovelo, porém muito mais que isso elas transportam o amor e a saudade.
Saudade de um tempo que nunca vivi, saudade que faz sorrir e chorar, amor e
paixão que me deixa a desejar e sonhar ter escrito letras como a de “Esses
moços”. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">“Esses moços, pobres moços/ Ah! Se
soubessem o que eu sei/ Não amavam, não passavam/ Aquilo que já passei/ Por meus
olhos, por meus sonhos/ Por meu sangue, tudo/ enfim/ É que peço/ A esses moços/
Que acreditem em mim.”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não é o canto de um
homem derrotado, no fim da vida, ao contrário, é o canto do homem vencedor,
vencedor por ter vivido o amor, sua súplica de querer crédito em suas palavras
é em vão, e ele sabe que é, pois o amor tem em si essa façanha ilusória da
felicidade e, também, do abismo. A dor do amor é a que modela sua música, sua
letra, sem ela nada existiria, então por isso o amor de Lupicínio, e de qualquer
homem, é a dor que todos sabemos que vai doer, mas só é amor se doer, só é amor
se for paradoxal, se for de sorrir e chorar ao mesmo tempo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Lupicínio faz da dor
que é a traição um manifesto de amor, o afastamento da amada, a saudade, a
letra que não é melancólica, o desejo da volta, tudo isso é amor em Lupicínio.
Algumas músicas são de desespero, a dúvida da traição como em “Se eles estão me
traindo/ e andam fingindo que é só amizade,/ hão de pagar-me bem caro/ se eu um
dia souber a verdade” nos faz lembrar Bentinho. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ele é o corno que encanta, o corno que cantamos mesmo sem sermos cornos, o corno que não é corno; Lupicínio é o homem que ama e soube traduzir em melodias a dor que é amar.</span></span></div>
Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-51062557336689833732012-08-17T14:26:00.000-07:002012-08-17T14:33:50.050-07:00Homem Santo<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">A minha janela não tem vista nem pra morro, nem praia, acho que fico
entre dois mundos, o que é pior, pois se não sou explorado, não sou explorador,
não sou nada dessa janela aqui. Mas essa janela é minha vida, minha prisão e
liberdade. O tempo aqui perde sua característica convencional, casual, linear
de ser. Tempo aqui é simplesmente tempo, e só. Não me preocupo com a noção de
sucessão no tempo, coisa vital para muitos, para mim é ao contrário, necessário
é não ter tempo, só ato. O instante, momento, ato, segundo, como queiram, é o
que sou; não relógios, marcadores, datas, aniversários. Com isto não nego o
tempo, pois ele se faz a cada ato na minha pele, mas repudio a linearidade, pois
não é ela que faz minha pele enrugada, cabelos brancos, cansaço físico, antes é
uma causa de átomos que vão se transfigurando, não há nesse processo algo que
no momento, um determinado momento, fosse deflagrado numa corrida linear
determinada pelo tempo que culminaria na minha morte. Não me alongarei em
palavras sobre o tempo, já ficou claro, creio, o que penso do tempo, sendo
assim o <i>eu </i>não é propriamente meu,
mas sou eu atravessado por diversos eu’s, há nisso por acaso linearidade?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Essa janela, como já salientei, é minha prisão e liberdade, pois dela
estou certo que resgato o passado no presente e faço o futuro precursor do presente,
e sei bem que isto é um meio de me livrar dessa janela. Mas chega de devaneios atemporais
e temporais, já cansei demais você. Escrevo-te meu amigo para desabafar o que
sucedeu por aqui, não tenho intenção de citar nomes, pois nem mesmo adiantaria
já que você não conhece, nem pretendo ser longo e explicar-lhe detalhes,
detalhes matam a literatura, tira o brilho do leitor em completar as lacunas
deixadas. Sei que você completará muito bem os espaços deixados aqui; situar no
tempo também não importa, é fato comum, do dia, que acontece com qualquer
pessoa e em qualquer lugar. Na verdade não pretendo nada com esse texto, o
leitor faz o que quiser com ele, isso é problema dele.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Tinha pouco mais de 27 anos, sem dinheiro, sem emprego, sem as certezas
do mundo, sem as certezas de mim, sem saber mais se era capaz, sem saber se
entendia mesmo do que falava, sem saber. Esse era eu no presente, nada
diferente dos muitos que por aí vagueiam, mas era eu, e isso me assustava.
Assim, o leitor dos romances contemporâneos até pensará que hoje está tudo
diferente, melhor, que tenho dinheiro, emprego, sou intelectual convicto,
conhecido... sinto muito meu caro, mas continua a mesma situação, só eu que
mudei e mudo. E como mudo, de tanto mudo eu silenciei, fiquei mudo. Mas irei
contar o amigo o que sucedeu.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Na tenra idade, eu que achava tudo podia (e podia), me enveredei pela
política. O amigo bem sabe que nunca fui dado a essas coisas, na faculdade
havia dois grandes grupos, oposição e governo, direita e esquerda,
centro-esquerda e centro-direita e essas nomenclaturas que você conhece muito
bem. Pois então, mesmo sendo avesso a isso de política me candidatei a vereador
de uma cidade no interior, motivo é que tava na pindaíba e
esse era o dinheiro mais fácil, e mais rápido e mais honesto. Era conhecido na
cidade como O Professor, me servi disso e fui eleito. Não me servi muito do
dinheiro público, só o necessário, mas o mau é que de necessidade em
necessidade a gente vai se servindo e desagradando também. Armaram pra mim e
fui pego e me afastei. Voltei a minha vida de professor e a da pindaíba também,
passado uma eleição me deram uma nova proposta, essa agora de ordem religiosa,
uma missão divina. Nunca fui dado com religiões e igrejas, mas como dizem que a
necessidade faz o homem eu me tornei um homem santo. Passei a frequentar os
cultos, inicialmente ia nos sábados à noite e domingo pela manhã, logo entrei
num grupo e passei a me dedicar três dias por semana, em seguida já estava
inserido na igreja como O Irmão. Até que me disseram que deveria continuar
minha missão divina, ser uma voz do Senhor na política ( claro que ninguém ali
tava preocupado com isso, as preocupações eram financeiras, pastor queria isenção
fiscal). E voltei, com o apoio da igreja, ( se quiser ser político, entre pra
igreja meu amigo) a ser vereador. Em dois anos de mandato eu aboli os impostos
da igreja e de empresas ligadas a ela, construí mais duas com dinheiro público, aumentei minhas
necessidades e inaugurei uma praça pública. Ninguém pode negar que não fui um
bom político. Mas em política é sempre bom ficar de olhos abertos. Quando se
tem uma missão divina duas coisas não se pode fazer: beber em bares e frequentar puteiros. Pequei nos dois, fui expulso da igreja e
perdi o mandato por questão de decoro. Quem estava comigo na farra era o pastor
e o prefeito, ambos não podiam se queimar, e eu fui o crucificado, me tiraram do
time. Hoje são deputados estaduais e a igreja é líder no Estado, bem como é
líder na isenção de impostos. Ontem pela manhã recebi aqui em casa um bilhete
assinado por ambos:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">“Velho amigo, sabendo das suas dificuldades e de como a vida política
lhe fora cruel, estamos solicitando sua presença em nossa corrida por uma vaga
no Senado Federal. Junte-se a nós, precisamos de você, de um assessor em nossa
luta. Venha nos visitar na capital em nosso escritório. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">PS: Em Brasília poderemos fazer nossas farras, dizem que lá imprensa e
senadores jogam no mesmo time.”<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-77928666545140330322012-07-21T13:30:00.002-07:002012-07-21T13:34:52.758-07:00Carta<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Caro Archidy,*</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Com as novas
tecnologias vem junto uma discussão, que não é nova, sobre o que é literatura e
sua morte; isso chega até nós como se livro fosse sinônimo de literatura, coisa
que não é. O livro é um suporte que pertence mais à história que propriamente à
literatura, portanto ela não morrerá, só mudará de suporte, assim como mudou do
pergaminho para os livros. Mas a pergunta fica: o que é literatura? Claro que
não tenho pretensão de responder isso, se um dia me enveredar por tal caminho
não será para dizer o que ela é, mas, antes, deixar mais dúvidas. O motivo de
começar este texto tomando essa questão é para tentar entender por qual motivo
a escrita fantástica no Brasil ainda é vista como escrita menor, ideia pueril. Não
sou um leitor perspicaz da nossa literatura contemporânea, tenho essa falta
comigo, mas sinto que há cada vez mais divisões na literatura, divisões essas
que atendem a certos grupos dentro e fora da Academia que tomam para si a
bandeira de “intelectuais”. O que quero dizer com isso meu caro é que a
literatura dita fantástica, regional, tradicional trabalha com a mesma coisa, o
texto. Sendo assim não há diferença entre uma categoria e outra, uma não pode
ser menor ou maior que a outra, pois todas lidam com o texto, o que as diferencia,
e não é caso de categoria, é o trabalho com o texto. Acrescente a isso que a
boa literatura é regional, tradicional, contemporânea e fantástica a um só
tempo, não tomo o fantástico somente como algo “irreal”, mas como fruto do
imaginário, pois, afinal toda escrita é imaginação, é a ficção que já avisa que
é ficcional, é o elemento que nos eleva a outros e a nós mesmos. Portanto, toda
escrita é, no seu íntimo, fantástica.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">O subtítulo “a história
que Pero Vaz de Caminha não contou” atrai muito mais o leitor que propriamente
o título, e é fácil dizer o motivo: qual leitor não gostaria de saber o que
Pero Vaz de Caminha não relatou ao rei de Portugal sobre nossa terra? Essa
mistura entre o histórico e o ficcional será um recurso ao longo do texto que
prende o leitor e o dará imaginação, assim como o subtítulo justifica o
narrador que promete contar algo, um mistério, e não conta. O primeiro
capítulo, penso eu, é onde o narrador mais faz reiterações sobre o mistério a
contar e depois quebra trazendo fatos conexos numa espécie de construção
histórica das reminiscências do narrador, autor da carta. Confesso que achei
cansativo as diversas reiterações, mas ajuda o leitor a passar para o próximo
capítulo, bem como elas aproximam o narrador do leitor quando, de forma
irônica, aquele reconhece as repetições e prever as críticas dos literatos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">É a partir do segundo
capítulo que se nota um trabalho mais apurado com questões do espírito em torno
do tema fantástico. Portanto o primeiro capítulo funciona, de fato, como
preparação e seleção dos leitores. No tratar de questões do espírito destaco o
narrador, que na transcrição do ocorrido, vai questionando o que seria
fantástico, irreal e confronta isso com a ideia de “Deus fantástico”. Este deus
fantástico, que é o deus religioso, é real para grupos religiosos, mas é
inadmissível, por esse mesmo grupo, a ideia de um fantástico que não seja
religioso. Essa questão me fez lembrar uma discussão recente que travei com uma
amiga sobre a ficção: somos ficção tentando ser real, e a literatura, como
diria um professor meu, “é a mais honesta das ficções, pois logo de cara diz
que é ficção.” Com isto meu caro não me tome como um homem de causa ateísta,
não. Ao contrário, o que se discute aqui é a ideia de deus fantástico, ideia
essa, que para o homem moderno, faz tanto sentido quanto uma história permeada
do fantástico. Numa coisa a filósofa de extrema esquerda Marilena Chauí tem
razão, “o ateu é aquele que não acredita no <i>nosso</i>
deus”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Esse ponto sobre sermos
ficção rende bastantes páginas a partir de sua obra, mas quero deixar para
outro momento. Agora gostaria de ressaltar mais um ponto que são as notas de
rodapé, coisa não muito comum em romances, o que me vem de memória neste momento
é somente <i>Iracema</i>, perdão se não lembro
outra mais recente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">As notas, num primeiro
momento, tem a impressão de educar os leitores, é um recurso até didático onde
se presume que os leitores sejam crianças e adolescentes e por este motivo seja
necessário uma explicação de certas personagens históricas que porventura não
sejam do conhecimento do referido público. Entretanto, as notas também são
parte do romance. Apesar de poucas, demonstram a necessidade que o autor, não o
narrador, pois as notas não são dele, tem de cercar seu texto de verossímil, as
notas, me parecem, estão aí também nessa função secundária: atestar a
verossimilhança da carta.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">São breves apontamentos
meu caro sem intenção de normatizar, pois a obra sempre se encontra aberta. Gostei
do seu texto “Eu, Papai e a Literatura”, gostei da discussão que você traz
sobre a Arte, o que ela é. Quando estive na Paraíba toquei nesse ponto quando
tratei Augusto dos Anjos: “Sendo assim para entender arte ou o que é arte não é
preciso ser um intelectual; se um homem simples do sertão compreende o mundo a
partir do seu lugar ele sabe o que é arte, se ele parte do pessoal ao universal
ouvindo, por exemplo, notas musicais e ritmo no chocalho do gado no pasto ele
sabe o que é arte, este homem simples se elevou sem precisar de nenhum
conhecimento técnico de música.” Essa temática venho perseguindo com Lima
Barreto em meus estudos sobre o autor carioca, espero também discutirmos mais
sobre esse assunto.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Abraço.<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Rio de Janeiro,
22/06/12.<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Chico Arruda.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="border: 1pt none windowtext; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 9pt; line-height: 115%; padding: 0cm;"><span style="color: #444444;"><br /></span>
*
</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span><span style="background-color: white; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: #444444;">Correspondência enviada ao escritor Archidy Picado Filho. São apontamentos sobre o seu livro </span><a href="http://www.recantodasletras.com.br/entrevistas/3601762" target="_blank"><span style="color: blue;">Os Cães do Diabo</span></a></span><span style="background-color: white; color: #444444; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 16px; line-height: 18px;"> que o escritor me entregara quando estive em João Pessoa/PB. </span></div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-53515598165147142422012-07-02T14:47:00.000-07:002012-09-30T11:57:45.328-07:00Da Arte de Beber Literatura<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 115%;">VI<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Curió, meu filho, tá uma porcaria, mas poesia ruim é melhor que bosta
nenhuma. </span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quincas Berro d'Água<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Há cachaça ruim? Sim, há.
Quem já bebeu uma cachaça doce, gostosa, na medida certa do álcool, sem colocar
ou tirar, sente a diferença quando bebe uma de má qualidade, mas nem por isso
deixa de ser cachaça. Aliás, melhor uma cachaça ruim que nada. O mesmo vale
para literatura; questão de gosto, questão de ter alguma coisa que coisa
nenhuma. </span><o:p></o:p></span></div>
Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-19916774452696790452012-06-10T15:59:00.000-07:002012-06-10T15:59:07.147-07:00A arte como ente compartilhado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-rWW_WspXrJA/T9UkGn_FpjI/AAAAAAAAAHo/GTgDlCh_s-U/s1600/DSC06921.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-rWW_WspXrJA/T9UkGn_FpjI/AAAAAAAAAHo/GTgDlCh_s-U/s320/DSC06921.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Creio
que em todo período sempre se discutiu o que seria Arte e no nosso não é
diferente, essa discussão sempre está dentro da Academia como se tivesse uma
fórmula ou conceito que a defina, e isso vem como numa “tradição” e chega até
nós como um grande “problema” a ser resolvido. Espero não ser leviano em minhas
observações sobre o que é arte e nem espero definir algo; pela liberdade que me
concedi na escrita deste texto me sinto à vontade para fazer meus apontamentos
a partir da ideia de compartilhamento que vejo presente nos processos de
subjetividades, ideia essa que me apoio em Hegel e Agamben para aqui tratar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Num
ensaio intitulado O<i> que é o
contemporâneo?</i> Giorgio Agamben ressalta que o verdadeiro homem
contemporâneo é aquele que é atravessado pelo passado no presente, ele é
deslocado, anacrônico. Para Agamben o presente é o “não-vivido em todo vivido”
– prefiro usar o termo “não-vivido no vívido-ido” por ter uma continuidade, não
cessa – ou seja, é o mesmo caso em Hegel, caso de justiça com o passado. Este
homem atravessado pelo passado no presente, anacrônico, só nos é possível
imaginá-lo pensando que ele é um sujeito compartilhado, daí depreender que um
homem do século XXI pode ser perfeitamente contemporâneo de outro do século
XIX, por exemplo. Ao ler “Iracema”, de José de Alencar, hoje, eu me torno
contemporâneo dele porque não faço uma leitura no seu tempo, mas, sobretudo, no
meu tempo em sua obra. Não sou nada mais que uma reunião de subjetividades em
mim que vêm do passado, mas isto não é herança que recebo do passado, é missão
que recebo do passado, missão de justiça que devo fazer, ou tentar, a ele no
presente. Sendo assim quando leio Alencar compartilho com ele de suas leituras
e de seu tempo e de tempos, períodos, anteriores ao autor, e toda re-leitura é
sempre um novo compartilhamento. Percebe-se então que somos todos sujeitos
compartilhados que compartilham de alguma forma com o passado e que estamos
todos, de alguma forma, unidos por esse compartilhamento. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Se
entendermos que o indivíduo, o sujeito, o homem é compartilhado então a
Literatura, a Arte também é compartilhada. Quando mergulhamos numa pesquisa
sobre a obra de Shakespeare ou Dostoiévski, por exemplo, o que estamos fazendo
se não compartilhando com eles e deles? Não estamos por acaso levando o nosso
tempo até eles e também modificando o passado? Por acaso tal pesquisador não
está compartilhando e resgatando, ou tentando resgatar, no presente o
não-vivido? E se a isto tomo como
verdade como posso afirmar que tal coisa hoje não pode receber o nome de Arte
se eu a levo também para o passado dito artístico? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Ao que
tudo indica comumente atribuímos como arte o que nos chega do passado e,
sobretudo, ao que chamam de <i>cânone </i>ou
<i>clássico</i>. Não vou discutir aqui os
meios que certos teóricos elencam obras e lhe dão a alcunha do cânon, mas
rebater essa hierarquização que faz com que digam que isto é ou não arte. Dizer
o que seria arte já pressupõe excluir um ou outro conjunto de produção
literária, mas se não podemos dizer o que ela é, podemos ao menos dizer o que
ela faz.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Lembro-me
de ter lido um texto-palestra de Lima Barreto, <i>O destino da literatura</i>, texto este que nosso mulato de Todos os
Santos nunca chegou apresentar, e lá Lima Barreto cita o jovem filósofo francês
Jean-Marie Guyau se referindo à arte como “a expressão da vida refletida e
consciente, e [que] evoca em nós ao mesmo tempo, a consciência mais profunda da
existência, os sentimentos mais elevados, os pensamentos mais sublimes. Ela
ergue o homem de sua vida pessoal à vida universal, não só pela sua
participação nas ideias e crenças gerais, mas também ainda pelos sentimentos
profundamente humanos que exprime". O que o jovem Guyau nos fala é a mesma
coisa que Hegel e Agamben também nos diz: a arte é compartilhada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Tomando
essa verdade da arte compartilhada não vejo mais motivos para discussões sobre
o que seria arte e muito menos dizer o que não é arte; se sou um sujeito e que
reside em mim diversas marcas de processos subjetivos distintos e que estou, a
todo o momento, compartilhando desses gostos em comunidade então estamos todos
ligados, compartilhados pelas mesmas ideias, atravessados pelo o passado e
qualquer produção nessa cadeia será arte para todos, pois negar isso seria
negar a própria ideia de compartilhamento e a si, e só não haveria motivos para
tal discussão do que é arte se não considerássemos nenhuma produção artística
do passado como arte.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Para
Hegel a arte é um produto do espírito, por isso o belo artístico ser superior
ao belo natural e mesmo “a pior das ideias que perpasse pelo espírito de um
homem é melhor e mais elevada do que a mais grandiosa produção da natureza”.
Nessas palavras creio que Hegel não define, como requer o conceitualista, o que
é arte, mas, antes, ele diz de onde ela vem e o que ela faz: eleva o homem.
Sendo assim para entender arte ou o que é arte não é preciso ser um
intelectual; se um homem simples do sertão compreende o mundo a partir do seu
lugar ele sabe o que é arte, se ele parte do pessoal ao universal ouvindo, por
exemplo, notas musicais e ritmo no chocalho do gado no pasto ele sabe o que é
arte, este homem simples se elevou sem precisar de nenhum conhecimento técnico
de música.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: #444444;">Ao que
me parece em Hegel não há discussão sobre o que é arte, nem hierarquização, mas
um dizer o que ela faz, e esse dizer em Hegel só é possível porque temos na
arte, assim como no homem, um ente compartilhado em comunidade. A arte como
ente compartilhado faz com que toda discussão sobre o que não é arte perca o
sentido, só é preciso se atentar sobre o que eleva o homem, isso é o que a arte
faz e neste sentido a própria história para Hegel é vista como forma de arte.</span><o:p></o:p></span></div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-18417527900079935592012-05-22T21:12:00.000-07:002012-05-22T21:30:03.153-07:00CICATRIZ<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://ipt.olhares.com/data/big/264/2648038.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="http://ipt.olhares.com/data/big/264/2648038.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sabe as rosas...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Elas não murcham mais que meu olhar nesse fim de tarde</div>
<div class="MsoNormal">
Delas, faço lenço e seco minhas lágrimas de seda</div>
<div class="MsoNormal">
Nelas, todo o leitoso deslizar é sombrio... perdido...tristeza...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Paredes cintilantes </div>
<div class="MsoNormal">
Que se escondem na magia do espinho</div>
<div class="MsoNormal">
Aquele que mata suavemente o homem.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Escondo em teus lençóis o que me foi tolhido</div>
<div class="MsoNormal">
Nelas vislumbro o teu cheiro ardido</div>
<div class="MsoNormal">
E elas murcham...</div>
<div class="MsoNormal">
E entristecem o homem que dela saiu</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
As rosas nascem e não morrem, matam</div>
<div class="MsoNormal">
Nelas me entrego ao desejo cravado no peito</div>
<div class="MsoNormal">
Cubro-me em teus lençóis famintos</div>
<div class="MsoNormal">
E choro no jardim secreto </div>
<div class="MsoNormal">
Tecendo as dores desse abismo </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Elas não morrem, purificam-se quando renascem</div>
<div class="MsoNormal">
Rosas! minhas preciosas dores vêm de ti</div>
<div class="MsoNormal">
As re-sentidas dores, tão eternas que me ferem</div>
<div class="MsoNormal">
tão leais que me comovem<br />
e como tu, não matam, nem morrem...</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-60846814300323234212012-05-15T16:08:00.000-07:002012-05-15T16:08:18.265-07:00Não-palavra<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Arial Black', sans-serif; font-size: 12pt;">Já faz tempo e não lembro quando foi - mas anotei - li um
texto do Samir Mesquita no <i>Carta Capital,
</i>seção<i> </i>“carta fundamental”, em que
o querido Samir começava assim: “</span><span class="apple-style-span"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Arial Black', sans-serif; font-size: 12pt;">Uma coisa é fato: se
hoje em dia fala-se tanto em microcontos, é porque também se fala muito em
Twitter.” Bem, caro Samir, outra coisa também é fato: se hoje em dia fala-se
tanto em Twitter é porque já se produzia bastante microcontos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span class="apple-style-span"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Arial Black', sans-serif; font-size: 12pt;">Outra, entre outra(s), proposição é
possível: o twitter é mais uma ferramenta de trabalho, um braço, uma
ramificação proveniente do caráter experimental do microconto; em outras
palavras houve uma necessidade de trabalhar a linguagem do menos, seja para uma
inserção maior do leitor ou seja porque o nosso tempo assim requer homens que nada têm a dizer. Estes, hoje, são os que mais dizem pela não-palavra.<o:p></o:p></span></span></div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-1211848794341365762012-04-23T22:09:00.000-07:002012-04-23T22:18:32.457-07:00<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">"How Do I Love Thee? Let me Count the Ways" </span></b><br />
<b><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">(Elizabeth Barrett Browning)</span></b><br />
<b><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggBB3KYAd9jQAhYlDNHdhl4Um_zOff7SsHjdoOHVfZSr30cTcVXE0PqtLGWEnNfBjxSQu0wLPqTwu6YZJKKm2rvP9mny1NwDROc7-5VsNFKgkqOncSSdWq90cUGgNFghqW2TL3fm3G2MDK/s320/Still+life+with+beetroot-706429.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggBB3KYAd9jQAhYlDNHdhl4Um_zOff7SsHjdoOHVfZSr30cTcVXE0PqtLGWEnNfBjxSQu0wLPqTwu6YZJKKm2rvP9mny1NwDROc7-5VsNFKgkqOncSSdWq90cUGgNFghqW2TL3fm3G2MDK/s320/Still+life+with+beetroot-706429.jpg" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: 'Lucida Sans Unicode', sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Paródia - Sonnet 43 </span></b><br />
<b><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; text-align: left;">"Como
eu te odeio? Deixe-me passar algum tempo com isso"</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Como
eu te odeio? Deixe-me passar algum tempo com isso.<br />
Eu odeio-te porque eu te odeio e não faz sentido,<br />
Eu não posso perder a minha consciência, não desta forma.<br />
Minha alma não pode encontrar o paraíso em você, é o
meu sentimento hoje.<br />
Sol e céu mostrando a vista e minha pele em chamas<br />
mas dentro do meu corpo está frio e eu não posso orar.<br />
Eu odeio você por direito, como eu arranquei meu coração
partido.<br />
Eu odeio-te de joelhos velhos<br />
Eu odeio-te desde que eu perdi minha fé.<br />
Com os meus sentidos e amor - Eu odeio-te com o meu
abraço de memória.<br />
Cheiros, beijos perdidos, de toda a minha vida! - E, se
Deus esquecer,<br />
Eu vou te odiar mais do que a minha morte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">*</span><b><span style="font-family: 'Lucida Sans Unicode', sans-serif;"></span></b><span style="background-color: #e1ebf4; color: #444444; font-family: Verdana, Helvetica, 'Lucida Grande', Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: -webkit-auto;">
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, Helvetica, 'Lucida Grande', Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12px; line-height: 18px;"><br /></span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-21355821486439665622012-04-19T08:03:00.001-07:002012-04-19T08:07:43.728-07:00Da Arte de Beber Literatura<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="color: #444444; font-size: 12pt; line-height: 115%;">V<o:p></o:p></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="color: #444444;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Toda cachaça requer ser envelhecida para ganhar o padrão de “boa”. Toda cachaça só é boa porque é velha. Toda cachaça velha é nova também, e toda cachaça nova é velha, mas não será boa se for apenas velha, é preciso ser muito mais que velha, é preciso superar a velha cachaça no tempo. Assim é a boa literatura, ela não pode negar o passado, sua relação com ele não é de herança, e sim de justiça, ser no presente o que não foi no passado, mas para isto é preciso ser tudo o que foi no passado e então se superar fazendo justiça com aquilo que não foi.</span><o:p></o:p></span></div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-89192503299804502302012-04-03T16:52:00.001-07:002012-04-03T17:26:01.662-07:00Uma terceira opinião<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br />
<div align="center" class="MsoNormal"><b><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">NOTA <o:p></o:p></span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><i><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Ted é um macaco de um bando de gorilas que vive numa floresta tropical da África. Há alguns anos ele fora capturado por uma equipe de caçadores e passou um tempo convivendo com seus parentes de duas pernas trabalhando num circo. Entre cidades, espetáculos, privações, chicotadas, péssima alimentação, brincadeiras jocosas e todo tipo de “delicadeza” a que os seus parentes bípedes costumam dedicar a alguém da vida selvagem, ele escreveu um curioso relato baseando-se nas observações do comportamento humano e nos comentários de seus colegas circenses: leões, girafas, micos amestrados, etc. Tal artigo foi publicado em gorilanês, tendo grande repercussão em toda espécie primata, e agora, chega às nossas mãos através da tradução de um repórter de uma revista dedicada à vida animal. <o:p></o:p></span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><i><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Não encontrando espaço nas publicações da comunidade científica, o tradutor recorreu a este blog para a divulgação do seu trabalho, não apenas pela natureza de tal proeza quanto pelo conteúdo do artigo. <o:p></o:p></span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><i><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Desta feita, entregamos ao leitor o referido artigo, publicado originalmente em gorilanês, divulgado oralmente pelo reino animal, agora em primeira mão em versão impressa num idioma humano. Esperamos que outras publicações se interessem por este documento e que esta tradução em português possa vir a facilitar a tradução deste artigo em outras línguas. <o:p></o:p></span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><b><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">O ARTIGO<o:p></o:p></span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">A natureza é um espetáculo incessante e bastante peculiar; nunca deixamos de nos surpreender com a vida, suas manifestações e aberrações da qual observamos do cimo de nossas árvores. Como sabem a nossa família é grande e variada, compreendendo orangotangos, saguis, chimpanzés, gorilas,... estamos por toda zona tropical, balançando-nos nos galhos do existir, seja de maneira calma, lenta, seja de maneira confusa e barulhenta. “Cada macaco no seu galho”, como dizem. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Entretanto, como em toda família há sempre uma ovelha negra, houve um primo nosso que há alguns milhares de anos deixou as árvores para, como ele mesmo diz: “pôr os pés no chão”, vivendo com os animais rasteiros. Segundo ouvi dizer, acho que isso foi a conselho de uma serpente. Falava que queria evoluir... Mas coisa estranha é a evolução porque sempre se tem a ideia de que evoluir é uma coisa boa, mas veja como nosso parente “evoluiu”.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Moram em cubículos fechados, empilhados uns sobre os outros, mas, o curioso é que nem todos os cubículos ficam ocupados, muitos de tão vazios, caem aos pedaços e são demolidos, enquanto outros deles dormem embaixo de viadutos, ou ao relento. Existe em todo o reino animal alguma espécie que seja capaz de criar as coisas pelo simples prazer de desfazê-las, ainda que isso implique na privação de seus próprios semelhantes? <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Guardam os restos e dejetos num depósito chamado lixo, mas mesmo achando esse material repulsivo, muitos deles se atiram aos montes nas latas e depósitos de lixo, revirando os restos e, ansiosos, devoram tudo que conseguem alcançar. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Mas por que estes lutam tão vorazmente por lixo enquanto no seu mundo existe comida em abundância?..., bom tudo isso faz parte do confuso conceito de igualdade que “evoluiu” junto com a sua capacidade de raciocinar. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Mais estranho é o que eles entendem por liberdade, com cercas eletrificadas, muros altos e toda a sorte de vigilância que cercam os cubículos onde moram, onde trabalham e as ruas onde trafegam. Nossos primos vivem vigilantes e temerosos. Com o que? Seria com alguma onça? Jacaré? Cascavel? Não, mas OUTRO SER HUMANO. O Ser Humano tem pavor de outro Ser Humano. E por conta exatamente deste medo mútuo, eles se policiam mutuamente, vigiam-se e punem-se por qualquer atitude “suspeita”. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Aqui onde estou, converso com meus colegas que junto comigo compartilham da “gentileza” com que nossos parentes tratam outras espécies. Pergunto a eles como vieram parar aqui e todos contam uma história bem semelhante a minha. Uma hora estavam no seu lugar e logo aparecem os homens com sua forma peculiar de persuasão: tiros, amarras, coleiras, jaulas, chicotadas, etc. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Não vale a pena detalhar um aspecto tão conhecido por nós. Aliás, talvez não fosse de todo estranho pra nós ver um ser tratando seres de outra espécie de forma violenta. Nós mesmos fazemos isso. O que muito me deixa curioso é a forma como nossos parentes reproduzem exatamente esse tipo de comportamento para com seres DA MESMA ESPÉCIE. Enfim... <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Agora tenho de voltar ao meu trabalho. Meu anfitrião insiste a minha presença a instantes rogos de chibatadas e por isso me vejo obrigado a interromper essas ligeiras observações que pude desenvolver nos meus intervalos de trabalho. Peço aos camaradas primatas que transmitam as minhas lembranças a minha família, digam que passo bem e que a viagem, apesar de ter seus “inconvenientes” é muito interessante. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Abraços a todos. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Até uma próxima ocasião!<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Palatino Linotype', serif; font-size: 12pt;"><span style="color: #444444;">Ted!</span> <o:p></o:p></span></div></div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-86759033933779324952012-03-20T14:23:00.000-07:002012-03-20T14:23:22.854-07:00Prêmios!<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Lembrei outro dia, numa discussão entre amigos sobre os prêmios literários, da resenha do livro “Meus Prêmios”, de Thomas Bernhard, que o Prosa&Verso resenhou no dia 08 de outubro de 2011. Isto me fez pensar que era momento de me posicionar sobre as premiações literárias nacionais, palavrinha essa, “posicionar”, que me custa caro, eu sei. E deveria me colocar na questão assim como fizera nosso querido Marcelino Freire e o simpático Ricardo Lisias no Prosa&Verso (mesmo não sendo no Prosa&Verso), porém com uma diferença primordial: não sou escritor, logo nunca recebi prêmio algum, logo estou livre para falar, no caso, escrever.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Para começo deste texto uma pergunta é essencial: quem é Thomas Bernhard? Thomas Bernhard é um escritor austríaco morto em 1989, considerado uma voz marcante na literatura europeia do século passado que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil, entre suas obras publicadas aqui podemos citar <i>Extinção</i> e <i>Náufrago</i> (nunca li). Como não é objetivo aqui tecer maiores comentários sobre o autor, deixo livre o leitor, que se interessar, a buscar a letra de Thomas Bernhard.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">O que nos importa aqui é a resenha do seu último livro, <i>Meus Prêmios, </i>que o Prosa&Verso publicou; para ser mais específico, o que me interessa é a temática que permeou a resenha do livro: os prêmios literários nacionais. Não irei fazer aqui uma resenha da resenha, mas é preciso situar o caro leitor.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">A resenha do Prosa&Verso nos traz um Thomas Bernhard ganhador de prêmios literários importantes, porém um homem crítico quanto à importância ou relevância que vem com a premiação literária. Não me parece que o autor seja contra o prêmio, mas vê ali somente grupo, independente de ser boa ou não a escrita, os prêmios literários para Thomas Bernhard não diz muito sobre o que é literatura relevante que vá ficar para posterioridade, pelo menos foi isto que a resenha passou.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Até aí nada de estranho, de fato essas premiações estão muito longe de dizer o que é relevante na produção contemporânea, pois se aceitarmos a ideia de que a própria crítica também se encontra distante da produção do Agora, sobretudo pelo motivo de vivenciar essa época de produção tornando-se mais difícil um olhar sobre seu tempo, nos perguntamos então com qual autoridade os prêmios literários elencam obras como literatura brasileira de relevância na sua forma estética? E nos perguntamos, ainda, de onde vem esse “gosto” estético dos jurados e, se me permitem mais uma indagação, o que fica de substância literária para autor e leitor após uma premiação literária?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Em “Meus Prêmios” Thomas Bernhard faz uma crítica contundente ao vazio que é para a literatura o ato de premiar o autor, em nada acrescenta isso, a não ser pelos valores que se paga em cada premiação literária, valores esses que me fazem perguntar sempre: é de literatura mesmo que estamos falando? Pois, a saber pelo valor do literato no país creio que pagar cinto e cinqüenta mil reais, como fez o Prêmio Moacyr Scliar de Literatura, ao poeta Ferreira Gullar por o livro <i>Em alguma parte </i>alguma é de re-pensar o valor da literatura no Brasil, pois a bagatela de 150.000,00 não é pouca. Detalhe que Gullar nem questão de ir receber o prêmio fez, pois acha Porto Alegre, talvez, muito longe do Rio de Janeiro e, além disso, o poeta não anda de avião: “De avião eu não vou. Faz uns dez anos que não ando de avião. Quem sabe eles não resolvem entregar o prêmio aqui no Rio. Eles podiam fazer uma coisa bonita na Academia Brasileira de Letras ou na Biblioteca Nacional.” (O Estado de São Paulo, 17/03/12). Depois dessa direta nos gaúchos o prêmio será entregue dia 29 aqui no Rio de Janeiro na Biblioteca Nacional ou na Academia Brasileira de Letras, pois evento grandioso exige lugares grandiosos, não serve um bar da Lapa.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Mas sabemos que valor pecuniário e estético são duas coisas distintas e necessariamente não andam juntas. Então é falsa a ideia de que aqui não se valoriza os autores, a escrita, o incentivo à literatura? Como já frisei não sou escritor, por isso posso escrever sem medo de amarras com prêmios. É verdade que algumas premiações têm desembolsado valores considerados altos no mercado literário, entretanto, daí dizer que há valorização da escrita é outra coisa, estaria eu a forçar e acreditar demais nos prêmios literários.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Então o que há? Política de prêmios, a volta do falso intelectualismo e, mais uma vez, a morte da inteligência. </span><o:p></o:p></span></div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-6456269502871485152012-03-02T07:17:00.001-08:002012-03-02T07:25:14.259-08:00Fé e Razão<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Tenho me perguntando até que ponto é válido usar da razão para se chegar a Deus, se há lógica racional no homem para entender Deus, se por acaso se chega à fé pela razão, se a fé não é outra categoria de razão, se há razão na fé, se ela, a fé, não é o Absurdo aonde a razão não chega. Estas indagações permearão meus apontamentos sobre fé e razão, não tenho por objetivo questionar religião, mas religiosidade quanto ao ato de fé, pois tenho que a fé, como defendia Kierkegaard, é um “salto”.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Creio que sempre há razão na fé, mas quando o homem dá um “salto” de fé não há razão nenhuma nisso, ela sempre ficará atrás, nunca alcançará a fé, pois a fé requer do homem um ato contrário a toda e qualquer razão humana, não há razão nenhuma em Abraão sacrificar o único filho, só um ato de fé, só um salto dessa grandeza, um absurdo, pode explicar isso. Creio que nem mesmo Abraão entendeu pela razão sua atitude, creio que ele deve ter ficado perturbado após quase matar o único filho, mas tornou-se maior, foi noutro estágio que homem algum tenha ido antes, pois foi um ato voluntário, consciente e sem razão, porém cheio de fé, mas não de fé como quisesse algo em troca, mas sim fé de acreditar no impossível, de fazer o impossível, de ir ao impossível sem se perguntar, sem se deixar levar pela razão, sem sequer raciocinar se o ato era lícito ou não, isso pouco importa; Abraão acreditou numa força extra-humana, acreditou que teria que fazer, acreditou, só acreditou no que deveria fazer.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Kierkegaard nos diz que “a fé começa precisamente onde acaba a razão”. Teria nisso alguma loucura, uma insanidade psíquica, uma loucura divina? <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">O acreditar no fazer é a fé, e ela não comunga com troca, a fé é um ato voluntário movido unicamente pelo fazer. Fé, para ser melhor entendido, é um estado de loucura divina para o homem racional, mas não há nisso uma insanidade, há consciência, resignação e missão, pois todo ato de fé ocorre no missionário, essa missão é individual, assim o ato, a fé, o salto é único em cada homem, pode até ser a mesma forma para o universo, mas é individual e ninguém pode dizer, ao certo, o que o outro sentiu, mesmo que sinta com ele.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Um ato de fé não tem nada a ver com um ato de espera, o homem que pratica esse ato de fé não espera nada, se deixa conduzir, simplesmente acredita que precisa fazer, e só. Percebo que confundimos fé como uma ferramenta de troca: só se faz tal ação por acreditar numa recompensa divina, isso é pensamento de quem ainda não se desvencilhou de séculos de escuridão da ignorância, basta ver a réstia de luz do conhecimento para clarear o nosso pensamento. Amor, caridade e fé são atos de entrega sem querer nada em troca, a fé é ato de coragem. Todo ato de fé, amor e caridade terá um efeito não só para quem os praticou, mas também para quem os recebeu, toda causa tem um efeito, todo efeito uma causa, mas ato de fé não é troca, o que se faz esperando recompensa já começa falho justamente por esperar, porém terá um efeito do mesmo jeito. Não julguemos os atos de fé, suas intenções, mas tenhamos em mente que o maior ato de fé é aquele que se entrega sem nada esperar, faz só por acreditar.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Kierkegaard para mim é um paradoxo, um sujeito de escrita dos contrários, mas o entendo como um filósofo racional, em que a razão nunca é cega, ela é a luz do conhecimento, a dissipação da ignorância, mas não se chega à fé por ela, apenas ela nos guia para tal caminho. Como já salientamos a fé é um salto que se faz aonde a razão não alcança, mas foi a razão que encaminhou o homem para tal salto. Assim Kierkegaard não é um irracionalista como quererem os deturpadores de plantão, mas ele pontua, ao meu entender, muito bem a diferença entre fé e razão. Penso que a fé seja um tipo de razão que nós chamamos de loucura divina, é um estado elevado do homem, é uma razão de ordem espiritual, que vem do espírito e não da matéria, por isso ela ser absurda aos olhos do homem puramente racional e por isto é vista como um ato aonde a razão humana não alcança.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;">Deixo aqui estas belas palavras do diário de Kierkegaard quando este tinha apenas 22 anos e as traduzo como o princípio para encontrar a fé.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: #444444;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><i>"O que importa é encontrar uma finalidade, ver o que realmente Deus quer que eu faça; a coisa crucial é encontrar uma verdade que seja verdade para mim, encontrar a ideia pela qual eu esteja disposto a viver e morrer."</i></span><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-619947883181427942012-02-13T16:47:00.001-08:002012-03-02T07:21:25.191-08:00Descortinando o palco das memórias<div style="text-align: justify;">A rua em que moro não é a mesma rua que cresci, embora eu nunca tenha me mudado. Não é apenas pela mudança na fachada das casas, na presença do asfalto, ou mesmo na mudança dos rostos dos vizinhos. A maioria deles, na verdade, continuam os mesmos, com exceção do que se foram, mas não, não é a mesma rua. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Na verdade ainda não era exatamente uma rua, mas uma extensão de mato entre as casas que ficavam a sua margem e, em dias de chuva, viravam enormes poços de lama que os vizinhos transpunham de um lado para o outro jogando tijolos e pedras. Não havia saneamento. Não havia transporte. Andava-se três ou quatro quarteirões pra se pegar um ônibus. Por isso quando falo da rua da minha infância não guardo saudosismos, apenas falo de uma constatação, afirmo um fato, algo que aconteceu indiferente ao meu próprio sentimento a respeito. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas continuando... do que mais me lembro da rua da minha infância eram das noites. Se me pego lembrando, me vejo sempre entre quatro ou cinco anos, aprendendo cantigas de roda: mãos dadas em círculos, girando e cantando coisas das quais eu não tinha idéia do sentindo que tinham. Afinal por que alguém vai "atirar o pau no gato"? Ou por que a "dona crioula que vem da Bahia, pega as crianças e joga elas na bacia"? Outra imagem que sempre vem é aos nove ou dez anos, correndo, correndo, correndo... sempre correndo. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas se tem uma imagem que eu sempre guardo com um sentimento especial da rua da minha infância é a mais remota. Quando tvs e telefones (mesmo telefones públicos) eram raridade. Caía a noite e as pessoas ficavam nas janelas das casas dos vizinhos assistindo novela. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A casa da minha avó era uma das poucas casas da minha rua que tinha tv e tv em preto e branco. Anoitecia e estávamos, minha mãe, meus dois irmãos e eu sentados no chão da sala da minha avó, cercados por um monte de vizinhos curiosos. Eram sempre duas novelas seguidas no início da noite, depois vinha o jornal. Nessa hora, as pessoas se dispersavam. As crianças brincavam. As donas de casa esquentavam o feijão da janta e logo mandavam as crianças entrar, porque queriam jantar antes de começar a novela das oito.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O engraçado é que essas recordações parecem ser de um homem da época do início da tv, ou então crônicas de um garoto de interior, mas não, isso tem uns vinte e quatro ou vinte três anos. Final da década de oitenta. Aqui na cidade mesmo. O caso é que, como em todos os subúrbios, vive-se quase isolado do mundo. Não a toa muitos dos bairros da cidade eram campos de concentração que a prefeitura de Fortaleza construía pra que os flagelados não ficassem no centro, que era a zona mais nobre da cidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Haviam também aqueles que preferiam outro tipo de novela: a da vida alheia. Esses permanecem até hoje, claro. Juntavam-se as cadeiras nas calçadas e em frente a porta das casas, as fofoqueiras afiavam o fio das suas línguas nas conversas cotidianas. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas assim que a imagem me vem a mente eu abro os olhos, e aqui de onde estou olho a rua do presente. O barulho dos carros e dos ônibus, as pessoas escondidas dentro de casa. A minha sobrinha cresce dentro de casa e ninguém nem sonha em deixar ela brincando em frente de casa devido aos assaltos que acontecem, mesmo aqui na porta de casa, perto da parada de ônibus. Não que ela não tenha amigos da mesma idade, mas estes amigos não moram ao lado dela.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Involuntariamente ela aprendeu a brincar sozinha e a falar como adulto para se comunicar com os adultos que povoam seu mundo doméstico. Ela vai crescer sem conhecer os outros garotos e garotas que moram tão próximo e só vai ter oportunidade de brincar na escola, em algum clube ou em qualquer outro lugar menos no lugar onde ela mora. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não tenho saudosismos da rua que cresci, ela se foi e com ela se foram muitos anos difíceis. Só queria que ela tivesse deixado para as crianças de hoje a convivência entre as pessoas e o prazer de crescer ao lado das pessoas com que você mora.</div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-45705565445083280382012-02-07T16:54:00.000-08:002012-02-07T17:15:50.985-08:00Londrina Campos, 78 anos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLM_fEC_IkTRzg5L-pdP70dx27ZscOLbILrlTBuWdLIkWN3Ngf6aHjggWfJ0Taax8Omthcr1hfCv86sllKc0khtTCWZleNKQTWSlUJQsYy2YQC3jlTFymRotQEKtVTduIbt2CjXP7xo_pW/s1600/026.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLM_fEC_IkTRzg5L-pdP70dx27ZscOLbILrlTBuWdLIkWN3Ngf6aHjggWfJ0Taax8Omthcr1hfCv86sllKc0khtTCWZleNKQTWSlUJQsYy2YQC3jlTFymRotQEKtVTduIbt2CjXP7xo_pW/s320/026.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> Até saber de Londrina eu não sabia do que se tratava o termo ‘irmã do tempo’ chamada: gratidão. Londrina não pensa nas vírgulas, nos pontos nem nos exageros das exclamações quando fala de seu passado, ela o é e o conta como foi, só isso. Há em suas palavras uma gratidão tamanha onde o tempo acarinhou lentamente com passos leves e fortes, tornando-a a mesma ‘menDina’- menina Dina, de sempre. Ela só não é firme quando pergunto pelos avós dela, nisso mexo nos calos de ‘Mendina’, chora como criança, e aí é onde começam as páginas em branco que lhes contei que haveriam de ler. Pois bem, minha Dina, conte a eles o que é seu, de suma importância sua, que ninguém lhe toma, o passado que ainda e nem nunca irá morrer, nem que você o leve, a historinha dos avós paternos que lhe trouxeram uma vida semelhante a de hoje, feliz e tão distante daquele tempo. Conte a eles, você consegue. Eu vou estar aqui e vou te ajudar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Não sei qual o tamanho das pessoas que irão me ler, mas espero que comecem e terminem com tamanho maior. É só uma sugestão. Eu morei com meus pais durante muito tempo, durante o tempo que chamam de uma vida toda, mesmo tendo saído de casa, em meu ser eu ainda morava com eles, de perto eles foram o mais próximo do que são para mim meus avós paternos, especialmente. Sem ofensas aos maternos, pois não os conheci. Eu tinha irmãos que me faziam sentir que o mundo lá fora era assustador, não por que eles brigavam ou algo assim, mas por que eu os via como pessoas que em meu íntimo eu já havia perdido. Não sentia amor e nem sequer os conhecia, exceto Agenor, com quem nunca troquei uma só palavra, e acreditem isso dura até hoje. Os outros me diziam muitas besteiras semelhantes às besteiras que escuto todos os dias de pessoas desconhecidas, como o fato de eu ser feia, diferente deles no aspecto físico, eles diziam, eu particularmente via diferenças que ultrapassavam ao simples nariz empinado ou a cor da pele branco-amarelada que eles tinham. Eu também sabia ofender, aprendi intimamente a magoar as pessoas treinando em mim mesma. Devem estar pensando que sou uma espécie de psicopata em transição, ou pior, que sou sozinha e sem filhos porque não quis contar que casei, engravidei e depois de seis meses de casamento e filho no colo, uma noite dessas dormindo, o matei e matei também o marido e por isso faria sentido à família ter me abandonado. Como vocês são cruéis, isso são guerras, as guerras nossas de todos os dias, mas não, não foi isso que aconteceu. Nunca matei ninguém, tive vontade, não nego, mas foi como suspirar e passou. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Ana, acho que fui sardenta em falar para eles que não amei meus irmãos de sangue, mas não posso negar uma verdade minha, você bem me conhece e sabe como fico, não sabe? – Sei sim Mendina, eles vão entender.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">(...)</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #444444; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com2Quixadá - CE, Brasil-4.9781327 -39.018799-5.2297291999999995 -39.3273065 -4.7265362 -38.710291500000004tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-63246683921349289082012-01-30T16:17:00.000-08:002012-01-30T16:17:31.068-08:00Do Homem Culto<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Venho falar de algo que me consome noite e dia, que me eleva, que me deixa, não superior, mas em igualdade com todos os homens: a Literatura. Venho dizer do homem culto, do homem que sente a literatura do seu cotidiano, do seu lugar.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Essa idéia só me surgiu há pouco quando olhando para minha casa e meus familiares me deparei com uma grande verdade: os homens simples do sertão, sem educação, sem nunca terem lido um livro sequer, sem nunca terem ouvido falar em Tolstói, Dostoiévski, Hegel, Nietzsche, Benjamin, Kant, Kierkegaard, Platão, Heidegger entre outros filósofos; nunca terem lido nenhum romance de Machado de Assis, Flaubert, Stendhal, Joyce, Homero, Kafka, Guimarães Rosa ou então ainda nunca terem ouvido falar das poesias de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, entre outros, estes homens, simples, do sertão, são, sim, cultos sem precisar ter lido algo clássico.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Então o que é ser culto? O que torna um homem culto? O que é preciso para ser culto? São perguntas, aparentemente, simples e tolas, mas quando refletidas nos tira toda certeza até então, ilusoriamente, sedimentada. Comumente se diz que o homem culto é aquele que absorveu, durante uma vida, bastante conhecimento, sobretudo proveniente dos livros, homens que dedicaram tempo à leitura, aos estudos e atos de pensamento. Sabemos que a leitura é algo distante das camadas sociais menos favorecidas, que sofrem com o analfabetismo, com a ausência da cultura de leitura e nunca conheceram o mundo das letras clássicas, então como considerá-lo culto de acordo com esse saber que temos em nós de quem ou que é homem culto?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Tomo o homem culto de um belíssimo texto-palestra de Lima Barreto, <i>O destino da literatura, </i>texto este que nosso mulato de Todos os Santos nunca chegou apresentar. Quando neste texto, apaixonante, Lima Barreto cita o jovem filósofo Jean Marie Guyau se referindo à Arte, literatura, são essas as palavras de Guyau: "[a arte é] a expressão da vida refletida e consciente, e evoca em nós ao mesmo tempo, a consciência mais profunda da existência, os sentimentos mais elevados, os pensamentos mais sublimes. Ela ergue o homem de sua vida pessoal à vida universal, não só pela sua participação nas idéias e crenças gerais, mas também ainda pelos sentimentos profundamente humanos que exprime".<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Se a isto tomo como Arte, como literatura, posso afirmar, sem nenhum medo, que o homem que nunca leu um clássico pode sim ser um culto. Se ele, a partir do seu mundo, consegue compreender o outro, este homem chega ao universal, e só a arte, a literatura, faz isso.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mais a frente Lima Barreto, numa reflexão das palavras de Guyau, nos fala: “Quer dizer: o homem, por intermédio da Arte, não fica adstrito aos preceitos e preconceitos de seu tempo, de seu nascimento, de sua pátria, de sua raça; ele vai além disso, mais longe que pode, para alcançar a vida total do Universo e incorporar a sua vida na do Mundo.”<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Essa bela reflexão de Lima Barreto nos mostra que não é preciso ser leitor das chamadas obras universais, não é preciso ser conhecedor de todas as filosofias, dos cânones, mas é preciso ser leitor, leitor do seu tempo, lugar, origem para ir além do seu próprio lugar, e só a Arte permite isso.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mas o que é a Arte? São os pensamentos mais sublimes, a própria existência que parte do individual para o universal, isto o homem do sertão faz todos os dias, ele anda sempre em comunhão com o pensamento sobre si, o outro e o mundo, pois ele vive na dor e a dor desperta nele o sentimento de humanidade.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Deixo aqui as lindas palavras de Jean Marie Guyau, citadas por Lima Barreto em seu texto-palestra, na certeza que com elas entenderão melhor o que digo ser um homem culto.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">"Ama tudo para tudo compreender; tudo compreender para tudo perdoar."<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-73586976465404827392012-01-10T07:34:00.000-08:002012-01-10T07:34:13.962-08:00A luta pela hegemonia<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Há pelo menos duas décadas a literatura brasileira contemporânea sofre uma disputa por sua hegemonia, acirrada nos últimos dois anos, entre catedráticos e novos escritores. Há uma verdadeira guerra de palavras entre escritores e críticos universitários; e quem sai ganhando, bem ou mal, é a literatura que, aos poucos, volta à cena literária das discussões que são tão importantes quanto a escrita para a própria literatura.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">É uma briga na qual não tomo partido, pois parto do princípio que o crítico literário deve, antes de expor qualquer postura ideológica, observar e se posicionar sobre a produção do seu tempo com senso literário. Senso esse que se forma quando o crítico volta seu olhar para o passado e reconhece no presente a herança recebida, porém investida com a estética que o Agora requer. Caso fosse escritor também não tomaria partido nessa briga; seguiria a sábia atitude do nosso Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis, de não rebater críticas, e sim, trabalhar a linguagem, sem a inocência e ignorância de achar que está criando o novo. Quem rebate crítica é menos escritor do que debatedor.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A crítica universitária tem perdido bastante espaço, seja para jornalistas, em seus meios impressos e virtuais, ou para os círculos de amizades literárias. O espaço perdido se refere à voz. A crítica já não é mais, na contemporaneidade, a única voz que emite valor sobre uma obra. O espaço perdido é quase fruto de uma ação voluntária da crítica contemporânea, que por vezes se coloca acima das produções do Agora na medida em que as despreza.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><b><span style="color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma ideia pueril</span></b><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Entretanto, não vejo a ausência da crítica como algo que escritores não estejam se importando. Ao contrário, eles sentem falta da atenção que a Academia deveria dispensar às obras do Agora. O que os catedráticos fazem é uma crítica canonizada, sedimentada somente no passado, mecanicista de um “copiar-colar” que fecha os olhos para a necessidade do presente em andamento, que exige formas de trabalho com a linguagem mais marginal na sua estética.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Claro que os críticos do Agora sabem disso, porém o que está em jogo é uma hegemonia no mercado intelectual. Isto corrobora para que a crítica se abstenha de emitir juízo de valor sobre uma obra não canonizada. Por outro lado, os escritores sentem a necessidade de serem autores e críticos de seus filhos anunciando assim o divórcio da literatura e da universidade, requerendo para o grupo o título de “guardador da literatura”.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A crítica contemporânea pouco se volta para os escritores “canonizados” do presente, são autores, sobretudo, que surgiram na década de 90 do século passado; deslumbro nas universidades, em cursos de pós-graduação em Letras, pesquisadores interessados por essa escrita do Agora. Entretanto, é lícito que aqui fique claro que tais pesquisas só abordam um número mínimo de autores; são estudos mais frequentes nas universidades do sudeste do país; são autores que estão se consolidando pela mídia e alguns desses estudos são de ordem comparativa com obras já consagradas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Não deixa de ser uma aposta que os novos pesquisadores estão fazendo em cima da escrita do Agora. Não buscam tomar a literatura para si, mas serem referência quando na posterioridade se falar da literatura do Agora. Então, há uma brecha aí para os autores contemporâneos deixarem de lado a ideia pueril de separação entre a universidade e a literatura.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><b><span style="color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A dependência de nossos escritores</span></b><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Assim como a literatura renova sua escrita com uma nova geração de escritores, ela também renova o quadro dos críticos literários. A disputa pela hegemonia literária também se dá em pequenas escalas dentro dos cursos de Letras; os alunos das universidades localizadas no nordeste por vezes deparam com um termo nada agradável, “regionalismo”, coisa também que se estende a produção de escritores do Agora daquela região, e também não os agrada.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">De fato, não irá agradar mesmo, pois tomando para si a alcunha de escrita regional, a crítica também será regional, e pior, parecerá escrita não do Agora, mas de um tempo que não se encaixa em lugar algum, submissa às ideias dos grandes centros de divulgação cultural. Então, creio que há dentro dos cursos de Letras uma disputa também, mas de críticos, de definir não só o lugar do curso de Letras na literatura, bem como de qual crítica deve ser considerada.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Fato é que a crítica universitária, aquela canonizada dentro dos cursos de Letras, não pode ser subestimada pelos escritores, de fato nossa escrita ainda não nos mostrou algo de relevância, não é a roda de amigos literários que irá mudar isso. É preciso acabar com essa dependência que os nossos escritores têm de serem aceitos, porque a crítica, seja a acadêmica ou a nova, estará sempre atrás, no mínimo, uma geração da escrita do Agora.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><b><span style="color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Discussões livres e democráticas</span></b><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os blocos de escritores que se formam também almejam a hegemonia da literatura, a crítica passou a ser vista como ameaça mais próxima. Note-se, por exemplo, o processo de escolha dos autores que irão fazer parte desses blocos; o próprio termo “regional” é uma consequência real quando se formam grupos de autores que buscam a fatia maior da literatura. Não infere com isso que os autores tenham inventado o termo “regionalismo”, mas que de uma forma inconsciente eles contribuem para aquilo que eles são contra, uma divisão na literatura de ordem espacial.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Estes escritores esquecem que literatura é fruto de um trabalho em solidão, e como tal o bom literário é aquele que escreve não por almejar a glória, mas por querer divulgar a literatura, expandi-la, sentem a necessidade de escrever, é romântico isso? É sim, ainda mais num tempo em que há tantas escritas lutando para ser “criticadas”, mas o tempo vem mostrando que nossas melhores letras advêm de um trabalho constante da linguagem, em silêncio.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Para críticos essa disputa beneficia a própria crítica acadêmica na medida em que dentro das universidades sua aceitação e consolidação se sedimentam como um caminho a seguir pelos estudantes. Alunos estes que necessariamente não concordam com tais posturas, mas a seguem devido às normas acadêmicas exigentes dos cursos de Letras. Parece um paradoxo? De fato o é; como a crítica universitária pode fazer refém dela mesmo os seus usuários quando, ao contrário, deveria proporcionar discussões livres e democráticas?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><b><span style="color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Literatura, e não discursos</span></b><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">E os nossos escritores do Agora que tentam um caminho do cânone – termo que necessita de um artigo exclusivo – estão preocupados com a literatura ou engajados com um rompimento com a universidade na tentativa de tomar para si o direito e o lugar do crítico? Qual é o lugar do escritor e do crítico no espaço literário? São indagações aparentemente simples, mas que no presente ainda me parece uma briga por atenção, entretanto nem os escritores contemporâneos têm se dedicado a um trabalho da linguagem pouco importando com a crítica, nem os críticos têm feito crítica com senso literário, continuam calcados em teorias e obras consagradas que visam sempre à comparação com o Agora e esquecendo-se da nossa linguagem, espaço e história atual que exigem novas formas de trabalho na literatura.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Assim nossos críticos tendem a nivelar a produção contemporânea por baixo, pois ainda estão presos a comparações, baseadas em obras e teorias canonizadas, que não levam em conta a necessidade que o autor do nosso tempo tem. Por outro lado, se eu fosse escritor tomaria partido pela literatura, não por discursos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">***<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #313030; font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[Chico Arruda é mestrando em Literatura Brasileira, professor e cronista]<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> *Publicado </o:p><span style="background-color: white; color: #313030; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">em 12/09/2011 na edição 659 do Observatório da Imprensa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 3pt; text-align: justify;"><br />
</div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-41176028817060582092011-11-30T15:55:00.000-08:002011-12-01T18:43:37.552-08:00Lima Barreto e o espírito de humanidade<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Neste momento me vem à memória umas lembranças de Proust sobre a leitura, quando este dizia que a sabedoria do leitor começa onde termina a do autor e que o autor só pode dar-nos é desejo, não respostas. Pensando assim, eu enquanto leitor, vou extraindo desejos do que leio, e creio que tenho me tornado a cada dia mais o objeto de estudo, porque o objeto de estudo tende a fundir o meu e seu espírito num só, numa única linguagem, o leitor é leitura e a leitura é leitor. Venho assim, não contar, mas compartilhar do assombro que tenho à medida que percebo o quanto tenho me tornado o meu objeto de estudo, ou antes, já o era, e agora o re-descobrindo: Lima Barreto. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Aos que pensam que aqui vai se seguir uma enumeração de semelhanças estão enganados, pois isso, creio, é tão comum entre Lima Barreto e um homem qualquer, não será isso que me faz, não igual, mas me tornar o meu objeto de estudo. Antes é preciso que fique claro que não entendo sua obra, não entendo, mas vou me reconhecendo por meio dela. O fato de não entendê-la pra mim é a perpetuação da obra, da escrita, do Lima Barreto, pois nada encerra em mim.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Até este momento na minha vida de leitor nunca havia me deparado com um autor que fosse tão apaixonado pela Literatura e a vivenciasse como ela merece, como uma Arte. Lima Barreto foi esse autor que despertou em mim o assombro e a vergonha. Assombro por notar que a cada dia sou mais “Lima Barreto”, suas convicções, crenças, paixões, defeitos, acertos, problemas, tudo isso, respeitando a dimensão de cada um na vida do autor, sou eu, na verdade, como afirmara Ivan Teixeira, “o artista Lima Barreto é uma invenção da sua própria ficção” e eu sou uma criação da personagem Lima Barreto, é o pesquisador que se fez imagem e semelhança da coisa estudada. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Por outro lado sinto vergonha, vergonha por não ter a mesma coragem do autor, vergonha por, ainda, não viver a Literatura como Arte, Letras como Arte, por não viver dessa coisa das letras como ela me pede. Nossas vidas, neste momento, foram parecidas, a mesma idade, as mesmas dúvidas, pensamentos afins, com a diferença que Lima Barreto já pensava como escritor e escritor consciente do seu dever e, sobretudo, consciente das suas falhas enquanto escritor. Eu não sou escritor, sou leitor, sou crítico, crítico-leitor, Lima era leitor, escritor e crítico.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Creio, na minha visão romântica e defensora da estética limana, que Lima Barreto muito pode servir aos novos escritores, como exemplo de paixão pela Arte a seguir, exemplo de escritor dedicado, fiel ao seu pensamento, mesmo “errado”, fiel ao seu pensamento, reflexivo nas suas leituras. A Literatura pede a toda geração seus nomes para a eternidade, com a nossa não é diferente, porém o que vai ficar de bom não sabemos, ainda é cedo, mas que fiquem escritores de alma limana, escritores que não sejam covardes às suas idéias, seus pensamentos, pois só um escritor fiel e consciente da sua missão pode continuar aquilo que Lima Barreto perseguiu a vida toda: despertar o homem para o sentimento e uni-los no espírito de humanidade. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Como já mencionei, não sou escritor. Então onde é que me encontro igual ao meu objeto de estudo? Que pretensão é essa de dizer que o Eu é Lima Barreto? De onde vem essa simpatia? São perguntas que pretendo respondê-las até o final desta folha, na forma mais simplória e pueril possível. Assim como o escritor fiel, o pesquisador também precisa ser fiel a sua tese, crer, defender, honrar a causa maior que é a Literatura. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quando li Kierkegaard afirmando no seu Existencialismo Cristão que cada homem deve compreender sua existência por meio de suas escolhas e que essas escolhas são a manifestação da vontade, responsabilidade e liberdade de cada homem, percebi que Lima Barreto tinha consciência de suas escolhas, da escolha de viver a Literatura como Arte. Neste momento me aproximei de Lima Barreto, do homem que se abandonou pelas coisas das letras, e fiz minha escolha de pesquisador que quer viver a sua obra, mesmo que errado, com a máxima paixão. Essa simpatia por Lima Barreto nasce do ideal a que o autor se propôs, que seja a ideia, que está na obra, se transforme em sentimento e este sentimento incorpore no leitor. Que a Arte possa, assim, unir os homens. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Deixo essas palavras de Lima Barreto como uma forma de amenizar as minhas tolas palavras de pesquisador encantado. São elas fruto de amor e desespero do escritor por essas coisas das letras.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">A Literatura ou me mata ou me dá o que eu peço dela.</span></i><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-65598027665443845012011-11-13T22:33:00.000-08:002011-11-13T22:37:28.936-08:00II<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyR-M2Z-A-EUddx9J-P3FwNJMm8M8jPg7D3Sgp4LJTR5FMyV2B9we_8eBvU-xgvuKWbUSU1RXtb0Yg6nUSimR_V4Ll3ap3_wCvc-duPZuNSOtZE_nh9gs9_-VDwpbutgEcyjXQvmbqcOW9/s1600/elegy_ben_penelope_1024x768.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyR-M2Z-A-EUddx9J-P3FwNJMm8M8jPg7D3Sgp4LJTR5FMyV2B9we_8eBvU-xgvuKWbUSU1RXtb0Yg6nUSimR_V4Ll3ap3_wCvc-duPZuNSOtZE_nh9gs9_-VDwpbutgEcyjXQvmbqcOW9/s1600/elegy_ben_penelope_1024x768.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Do filme "Elegy"</td></tr>
</tbody></table><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">É incrível o poder que ele exerce sobre mim, mesmo depois de tanto tempo. Basta a mais ínfima demonstração de carinho para que eu esqueça os planos de nova vida.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- A distância é uma puta - ele disse -, dessas que fazem um péssimo serviço e ainda cobram caro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Só o amor é capaz de dar beleza a um palavrão, então eu achei 'puta' a palavra mais linda do mundo. Naquele momento, o eu te amo dele poderia vir acompanhado deste vocativo poético, puta, que eu não ligaria.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Eu detesto isso. Eu detesto tudo isso. Eu detesto como ainda gosto de você. Eu detesto o jeito que você tem de acabar com todas as minhas certezas. Eu te detesto. Eu só te amo quando você tá longe. Quando você chega, todo arrogante, como quem diz 'tua vida e minha', eu te detesto.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Bom saber disso. Bom saber que eu posso entrar assim na tua vida. Desculpa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Em que parte do caminho o amor da gente ficou tão cafajeste assim? Me diz.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Eu o abracei. Não era um abraço pelo abraço, eu só queria sentir o cheiro dele, daquele corpo, como faz um viciado em cocaína. Ele era a minha droga, e eu precisava cheirá-lo. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Os braços dele apertavam a minha cintura como se há tempos não envolvessem um corpo assim. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Não preciso de muita coisa nem de muito tempo - dizia -, basta te abraçar por um minuto.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele não precisaria. Menos de um minuto, e se passaram dias.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-11177532802809530102011-10-12T13:21:00.000-07:002011-10-12T13:22:48.794-07:00Teses sobre beber literatura<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Calibri, sans-serif;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;">I<o:p></o:p></span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Calibri, sans-serif;"><br />
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Calibri, sans-serif;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;">Assim como a bebida que vicia, a literatura também torna o homem alcoólico; quase sempre, os que possuem cultura de subúrbio, começam nas bebidas geladas, sobretudo, cerveja e chopp, após certo período a ânsia literária já não se satisfaz com leituras geladas que são típicas de quem começa a conhecer a literatura. Do chopp e cerveja migra-se para bebidas quentes, ora whisky, não os de boa qualidade, ora vodka, sobretudo as nacionais, ora a cachaça. Aqui reside o paradoxo, à medida que a inconstância da literatura cresce em nosso peito vamos mergulhando em leituras mais “pesadas”, mais fortes, complexas e perturbadoras no espírito humano, porém não é culpa dela, a culpa é do homem, do seu espírito conhecedor, aqueles que rompem com a ignorância se afogam neste mundo de bebidas literárias. Por outro lado esse mergulho é também um fracasso, a cada passo que dá para a literatura são dois passos para a solidão, medida descomunal. Vamos nos tornando alcoólicos, a cerveja do subúrbio já não serve mais, parte para o whisky ruim, e já se prova outro gosto, acalma o espírito ao mesmo tempo que o corrompe para vôos maiores; a vodka vem, o whisky de boa qualidade também, parece que enxergou a divisa do espírito, breve engano que a literatura nos proporciona, daí em diante experimentamos o paradoxo do vôo alcançado e a dependência; a cachaça será o fim, é quando não suportando e não compreendendo o aparente transcendental, encontra na cachaça o devido silêncio da solidão que a literatura proporciona. </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Calibri, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;"><br />
</span></span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;">II<o:p></o:p></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;">A Literatura no nosso tempo tem sido encarada como ferramenta que não segue mais grupos, livre de técnica, “normas”. Mas ao passo que esses grupos foram sendo sucumbidos surgiram outros, só a técnica que parece ter morrido. Portanto, permanece a hegemonia que se volta, não mais para quem escreve ou publica, mas para quem tem “vaga”. Por acaso há vagas nos botequins reservadas para os eleitos? O botequim é de todos, mas é preciso saber beber. A bebida tem sua forma, sua propriedade, onde reside seu conceito de bebida, de lá extraímos a aparente transcendência; nem mesmo a literatura transcende, ela é cria e pai do mundo, e é aí que mora a falsa transcendência porque dela é impossível surgir o novo, para tal acontecimento é preciso que o novo surja de algo nunca visto antes. Ela é atravessada pela história, daí tudo o que ela faz é no nível do mundo.</span><br />
<span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small; line-height: normal;"></span></span><br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><i><span style="color: black; font-size: 12pt;">O que prejudica os nossos literatos não é a cachaça. É a burrice.<o:p></o:p></span></i></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><i><span style="color: black; font-size: 12pt;">Lima Barreto<o:p></o:p></span></i></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><br />
</span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;">III<o:p></o:p></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;">Beber em demasia é um mal, vicia o homem e o mata, prudente seria não beber, mas aquele que experimenta o breve instante da luz divina a deseja compulsivamente até a morte. Ela também pode desviá-lo para as trevas, sobretudo quando nela busca o alívio do seu tempo; aqueles que buscam a verdade a encontram pelo conhecimento, assim é a literatura também.</span></span><br />
<span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small; line-height: normal;"></span></span></span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;">IV<o:p></o:p></span></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 18px;">Cachaça boa é cachaça velha, quanto mais velha for, melhor fica; aqueles que sabem apreciar uma boa bebida sabem do que falo. Mas cachaça nova também é boa, entretanto, para degustá-la não é preciso, necessariamente, ter provado as bebidas antigas, porém ela só será uma boa cachaça se tiver na sua composição a devida quantidade de reconhecimento às bebidas antigas que sempre dividirão espaço no bar com as novas. Bem que a literatura do Agora poderia ser encarada assim, como uma cachaça nova.</span></span></span></div></div></div></div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5999489099921390219.post-20642057159733406062011-09-26T09:32:00.000-07:002011-10-12T12:59:11.272-07:00"Faces"<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Na coluna de José Castello, no Prosa&Verso de 24 de setembro ( sábado) , há a divulgação do livro “Faces” (Record) novo livro de Livia Garcia-Rosas. Em primeiro lugar peço desculpa pela ignorância que me toma, pois não conheço a referida escritora. O livro é fruto do modismo que cruza internet (redes sociais) e minicontos; temos uma parcela de escritores desconhecidos que julgam ter descoberto um “novo” modo de fazer literatura em 140 caracteres ou toques no twitter, já a querida escritora avança um pouco mais, são 280 toques a mais ou 420, número de caracteres permitido no Facebook (outra rede social, não precisava dizer, sei, mas como há gente por aí ignorante como eu, não é má ideia frisar que o Facebook é outra rede social). E dessa escrita de 420 caracteres postada no Facebook entre 2009 e 2010 que surge este livro. “Faces” é uma sacada em tanto de Livia Garcia-Rosas, o nome do livro sugere as diversas faces e assinaturas ( se entende que Livia reuniu textos faceboquianos de diversos escritores faceboquianos); e eu ainda digo mais, o nome do livro também é uma sacada genial da abreviação em inglês “face” que comumente, de forma carinhosa, chamamos o facebook; <i>face</i> = face, entendeu cabeça? Eu na minha limitação não conseguiria pensar nisso.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Livia diz o que caracteriza os textos é que eles são escritos no calor da hora, sem lentidão, reflexão, meditação silenciosa em cada frase, que segundo ela, são coisas de escritor tradicional. Em seguida ela afirma que a parte mais preciosa de “Faces” é que se destina a uma reflexão seca. Aí confesso, mais uma vez, minha total ignorância, não sei o que seria “reflexão seca”, seria reflexão sem reflexão? Ou refletir o texto da mesma forma que sua criação, imediato, seco? Mas não sei que ideia essa de um texto que foi criado sem reflexão dar importância à reflexão, para quê isso? Não seria trair a si mesmo o texto pretender algo, ainda mais uma reflexão, logo ele que foi feito assim só por fazer, só por escrever e ponto? <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Bem, ainda não encontrei no site do Prosa&Verso o link da matéria, somente no papel, mas leiam o livro. Pensando aqui, se bem que para ser mais fiel à própria ideia ele (o livro) deveria ser apresentado, lançado, divulgado, lido, já que foi escrito, diretamente no Facebook por meio de um iPad 2. <o:p></o:p></span></div>Chico Arrudahttp://www.blogger.com/profile/15906014116562986235noreply@blogger.com0